AGENDA CULTURAL

24.5.08

A cerveja não me faltará


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nesta sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada!

- Uma garrafa de vinho Chapinha!

- Uma porção de queijo!

Seu Sugiro gritou lá da calçada:

- Ih! Sugiro espetinhos de filé miau, viu?

E os pedidos choveram na roça do japonês churrasqueiro.

Todos os barrigudinhos ofereciam o primeiro gole para o santo, o Onofre. E a imagem, lá de seu nicho, parecia que aceitava a dádiva. Quem não gostava do costume era Dona Assunta que precisava abandonar a cozinha para limpar o ladrilho do boteco.

Amelinha, a filha do casal, ficava no caixa, mais passava cartão de crédito e marcava na caderneta do que recebia, principalmente em fim de mês, quando se parece com o fim do mundo.

De repente chega um padre, vestido de batina preta, à moda antiga. Barba crescida e desarranjada, se parecendo com a figura do beato Antônio Conselheiro. Todos em silêncio. Ele encostou o seu cajado na parede e disse com voz solene:

- Quero que todos se unam, dando-se as mãos!

Assim fizeram diante daquela voz impositiva. E começou a prece:

- O isopor é o meu pastor, a cerveja não me faltará!

Os barrigudinhos se olharam, mas como a oração ia ao encontro dos objetivos deles, continuaram, repetindo cada palavra:

- Cerveja gelada que estais no bar, aguardando a sexta-feira chegar.

Venha a nós o copo cheio. Seja feita a nossa farra, Assim na sexta como no sábado.

Começaram alguns risinhos. O beato gritou:

- Quero que levem a sério a prece!

Silêncio, nenhuma contestação. E o beato continuou:

- O mé nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas bebedeiras,

assim como nós perdoamos a quem não tenha bebido. E não nos deixei cair no refrigerante. E livrai-nos da água. Amém... Doins e fritas!

Dona Moranga não se conteve:

- Isso é oração do diabo!

- Então aqui no boteco é o inferno? A oração fala da vida que vocês levam – gritou o beato.

Todos se entreolharam. Aquela voz era parecida.

- De que hospício o senhor escapou, de que buraco o senhor saiu? – quis saber Burguês.

- Eu sei que o senhor veio do buraco de sua mãe... – respondeu o beato.

Burguês foi de tapa para cima do padre. A barba postiça saiu do lugar, os cabelos crescidos eram uma peruca.

- É o Bicho Grilo fantasiado de padre! – gritou Miltão.

E lá foram cascudos, tapas, pontapés. Até que Faca Amolada gritou:

- Rodada por conta da casa!

Aquilo foi uma ordem. Os copos se encheram. E todos riram da pândega montada por Bicho Grilo.

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