
Hélio Consolaro
Apesar do friozinho, o boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos. A sexta-feira já não era tanto o Dia Nacional da Cerveja, mas o santo, o Onofre, não ficava sem o primeiro gole de cada um. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma garrafa de vinho Chapinha!
- Uma porção de queijo!
Seu Sugiro não apareceu, não havia espetinhos de filé miau, por isso predominaram as porções.
Com a falta do japonês churrasqueiro, Dona Assunta ficou sobrecarregada na cozinha. Início de mês, Amelinha, a filha de Faca Amolada, recebia as contas no caixa. Muitos barrigudinhos já usavam o cartão de crédito.
Burguês começou provocando Mimoso:
- Seus manos aprontaram com o Ronaldinho!
E ele se limitou a responder:
- Eu, hein!?
-Você está falando do “fim-nômeno”. Veja só onde o cara foi dependurar suas chuteiras: nos chifres de veados! – disse Subversivo.
Alguns riam, outros balançavam a cabeça. Bicho Grilo filosofou:
- Ronaldinho está mais para Maradona do para Pelé! Que fim trágico.
Dr. Duas Caras não deixou de dar seu palpite, apesar de não ser fanático por futebol:
- Ontem, Ronaldinho era um centroavante rompedor; hoje, é um simples gandula. Enche a mão com bolas alheias...
As gargalhadas eram gerais. Nisso entrou um garoto acompanhado do pai, para comprar paçoca. Num lance da conversa entre pai e filho, ouviu-se o menino dizer:
- Pai, não quero mais ser jogador de futebol. É um pessoal esquisito.
Banguelo leu em jornal que Ronaldinho ligou para o delegado de polícia:
- Doutor, não houve problemas. A coisa só complicou no motel na hora de mostrar os documentos...
E assim fazia gracinhas sobre o caso. Até que Miltão, santista, resolveu contar uma piada do São Paulo:
- São-paulinos são iguais a carrinho comprado em loja de R$ 1,99. É só brincar um pouquinho que eles soltam a rodinha. Amigos do Ronaldinho...
Bicho Grilo ficou uma fera. Mimoso gritou:
- É um desrespeito à tribo dizer que todos os bâmbis torcem para o São Paulo. A maioria dos maninhos são corintianos!
Subversivo, apesar de não beber mais nada, continua com seu temperamento esquentado. Foi de tapas e pontapés pra cima de Mimoso. A turma do deixa-disso entrou na história, mas as cadeiras voadoras já circulavam pelo Bate Forte. Até que Faca Amolada gritou:
- Rodada por conta da casa! Hoje é de vinho!
A calmaria retornou ao boteco. Todos os barrigudinhos saboreavam aquele vinho bem baratinho, servido em jarras.
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