AGENDA CULTURAL

20.7.08

Vote em mim!


Hélio Consolaro
As eleições municipais já ameaçam as ruas. Assim, neste julho, os comitês ainda estão grávidos de esperança, todos os candidatos se sentem eleitos. Já começa a surgir um santinho aqui, outro acolá. Carros pintados. “Santinho” porque todos os candidatos se tornam santos em campanha eleitoral, e os cabos eleitorais imitam os antigos padres que davam santinhos (imagens em papéis) nas portas das igrejas.
Aliás, a palavra “candidato” se origina de “cândido” que significa puro, pois em Roma os candidatos a cargos eletivos vestiam toga branca.
Os candidatos, então, já gritam:
- Vote em mim! Pense em mim! Não pense no outro!
- Eu sou o bom! Bom demais!
Eles podem fazer isso, são cândidos e distribuem sua própria santidade ao eleitorado. Há aqueles que se consideram super-homens. Fazem, arrebentam, vão endireitar o mundo, mas na verdade não conseguem administrar nem sua própria casa.
Há algumas mentiras que a repetimos demais, portanto, se tornaram verdades. Quem é bom nas pequenas coisas, tem chance de ser bom nas grandes. Boas árvores produzem bons frutos. Essas verdades pétreas nem sempre são verdadeiras. Exemplo: um presidente “cachaceiro” promulgou a lei mais severa contra os motoristas alcoolizados.
Professor ou professora conhecem bem o processo eleitoral, pois sempre estão promovendo a eleição do representante de classe. Nunca vence o aluno cê-dê-efe, mas o cara do fundão, porque não existe pessoa mais chata que o cumpridor de seus deveres. Ela quer que todos sejam iguais a ela.
Por isso é que, em 1986, o povo paulista preferiu Orestes Quércia a Antônio Ermírio de Moraes para governar o estado. O empresário ia querer que todos trabalhassem 24 horas por dia. Já pensou? Eu, hein!
Outra coisa esquisita é dizer que o outro não sabe votar. A classe média, por exemplo, se comporta como dona da verdade, meio moralista, e diz que votar bem é digitar na urna eletrônica os números dos candidatos dela. Claro!
Votar bem é muito relativo, porque cada eleitor faz da urna caixa eletrônico de banco: vota de acordo com seus interesses. Esse negócio de dizer que o bom cidadão vota com o coração, a favor do município e da pátria é conversa para boi dormir. Se a ética do político é se manter no poder, a do cidadão é sobreviver. A política é a arte de dissimular, dizer que está defendendo os interesses coletivos, quando, na verdade, sobressaem os interesses pessoais e grupais.
Os comitês, neste julho, estão grávidos de esperança, mas em outubro, eles poderão estar grávidos de dívidas. E a palavra de ordem ser um queixume:
- Fui traído!

2 comentários:

Anônimo disse...

Então, sejamos oposição, sempre!

Sylvia Feitosa disse...

Prof. Helio, foi um imenso prazer conhece-lo e fazer parte desse grupo de amigos em que veem no senhor um incentico indispensavel para prosseguir! Parabéns, a "reciproca e a lenda" é verdadeira.

anexe por favor meu blog no "Grupo Experimentanea"

Gde abraço

Sylvia Senny