AGENDA CULTURAL

16.8.08

Como se livrar do bafômetro

DIL MARCIO / Nova Friburgo - RS

Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos, cada um com a pança maior que a do outro. Aquilo que costumam chamar de calo sexual, na verdade, é árvore de cemitério, fazendo sombra para um morto. O primeiro gole era sempre do santo, o Onofre, que espiava lá de cima, de seu nicho, a procura humana pela alucinação como forma de fugir da dura realidade.

Dona Assunta se desesperava, não vencia enxugar com rodo envolvido em pano de chão o líquido que o santo não bebia.

Faca Amolada e Caneta Louca atendia aos pedidos que vinham aos gritos.

- Uma cerva bem gelada, por favor!

- Uma porção de queijo!

Seu Sugiro gritava lá da calçada:

- Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né!

E os pedidos triplicaram para alegria do japonês churrasqueiro. Nisso, Burguês percebeu que havia outro patrício de Seu Sugiro no bar. E foi ao seu encontro:

- Viva! Aqui está o Tadami Kawata! Candidato a vereador da colônia nipônica, né! Parente de Seu Sugiro!

E todos os barrigudinhos queriam que ele pagasse cerveja. Ele se safou muito bem:

- Se pagar, a Justiça Eleitoral pode cassar minha candidatura. Não pode! Não venda o seu voto! Campanha da Folha da Região, né!

- Desculpa de japonês pão-duro... – gritou uma voz.

Subversivo gritou:

- Vou votar no Davi Lampião, só de raiva!

Bicho Grilo fugiu da pauta, dizendo bem alto o próximo tema:

- Gente, descobri como se livrar do bafômetro! Estou vendendo a R$ 50,00!

Todos queriam saber como. Qual seria o segredo. Seria algum aparelhinho?

- Tá feia a coisa, o bicho tá pegando e sério mesmo. As polícias estão querendo arrecadar mais impostos para o governo dar aumento pra eles – reclamou Gordo.

Bicho Grilo:

- Um amigo meu, policial, me deu uma dica. E eu mandei fazer vários.

E mostrou aos barrigudinhos aquelas tiras plásticas:

- Coloque no pára-brisa, um adesivo como este “Deus é Fiel” ou “Só Jesus Salva” que os policiais não param você, dizendo um para o outro: “Deixa passar que esse cara é crente e não bebe”.

Todos riram. É uma boa! Mas acharam muito caro.

- Bem que eu percebi aumentar o número de carros com tais selos nas ruas da cidade... Então tá explicado! – resmungou Magrão.

Miltão estrilou:

- Sabia que você, Bicho Grilo, era um poeta, amigo da solidariedade, agora virou explorador da fraqueza alheia?

Como já houve conflito entre os dois, Faca Amolada, preventivamente, já gritou:

- Rodada por conta da casa!

Todos voltaram a seus copos. E Bicho Grilo acabou reduzindo o preço do selo: R$ 10,00. Não sobrou um.

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