AGENDA CULTURAL

31.10.08

A arte cura


Hélio Consolaro


Na faculdade, cheguei a ler um livro sobre a necessidade da arte. Pego a esmo na biblioteca da escola. Nem me lembro bem o autor, mas trazia o tema em linguagem acadêmica. Só depois, com a maturidade, fui entender melhor o tema, sob o prisma da realização pessoal.

Hoje, tenho certeza de que fazer arte é uma terapia, se livrar das tensões, dar vazão à subjetividade. Cada um é mais gente exercendo a sua veia artística. Já disseram, não sei se Dostoiévski, que se não fosse escritor, seria um assassino.

Na verdade, a humanidade ganhou muito com as pessoas portadoras de transtornos, quase todos nominados atualmente: transtorno disso, transtorno daquilo. Foram tais criaturas que produziram as melhoras obras de arte ou se enveredaram pelo mundo da ciência. Os medicamentos antidepressivos e congêneres limitam a genialidade.

Assim foi nosso Machado de Assis. Ele buscou a sua realização na literatura, pois era afro-brasileiro, de origem humilde, motivo de preconceito forte em plena vigência da escravidão negra; gago e epilético. Assim mesmo, tinha sorte com as mulheres.

Com a arte, ele superou todas as barreiras, exercendo sua ironia fina e exercendo a hipocrisia como arma de sobrevivência na sociedade carioca.

Os escritores Lima Barreto e Cruz e Souza, também afro-brasileiros, não tiveram a mesma sorte, pois optaram pelo enfrentamento, sucumbiram, pois o inimigo era muito maior que eles. O negro intelectual da época tinha como caminho natural o isolamento, pois não havia interlocutores negros, com o mesmo nível cultural, e os escritores brancos eram ferrenhamente racistas.

A elite carioca gostava tanto de Machado que o foi tornando branco nos retratos, o fazendo esbelto, como se nada tivesse de negro. A exemplo do que houve com a personagem Isaura, a escrava, de Bernardo Guimarães: esbranquiçada pelo autor.

Sempre digo a meus alunos que Machado de Assis é exemplo de superação. Viu na literatura a saída, o caminho para sua realização e acreditou nela. Lia, escrevia, lia, escrevia, lia até o fim de sua vida, 29 de setembro de 1908.

Nosso maior escritor, apesar de ser amplamente estudado nas universidades, também de países estrangeiros, não tinha diploma, foi um autodidata. Foi aprendendo nos jornais por onde trabalhou, certamente, tomando orientações com amigos, participando de discussões, chegando a traduzir obras estrangeiras para o português.

Foi tão bem-sucedido que hoje, 100 anos de sua morte, continua atual, lido e suas obras são objetos de grandes descobertas literárias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Li um texto chamado "Abraço,Tímido Abraço" que termina desta forma:
"_Por que este cara está contando suas neuras? Está extrapolando...A arte é a imitação da vida, estas neuras não são só minhas, pertencem à humanidade. À medida que eu tenho coragem de contá-las, muitos se identificarão, se acharão neste texto. Se escrever não fosse isso, não valeria a pena. Um abraço, cara! Um abraço à distância. Tímido abraço, porque os neuróticos também amam."
Agora eu digo que esse texto, de um filósofo vermelho, amarelo e verde, está recheado de razões e, diante delas, devemos parar. Depois, seguirmos adiante para colorir o invisível onde coubermos transparecer. Um aperto de mãos, professor!
Rita Lavoyer

Patrícia Bracale disse...

A Arte liberta e alimenta.
É nela que nos encontramos e nos transformamos.
Com a Arte equilibramos a emoção e a razão...
São nesses momentos que evoluímos com o prazer de CRIAR!!!