1.11.08
Garoto propaganda
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de gente, com uma faixa preta numa das paredes, por luto à morte de Mimoso. Assim mesmo, o movimento era imenso. Faca Amolada e Caneta Louca atendiam, esbaforidos, aos pedidos que vinham ao gritos: - Uma cerva bem gelada! Do barranquinho! O primeiro gole é sempre do santo, o Onofre, que lá de cima do nicho, observava indiferente aquele covil. Seu Sugiro, lá da calçada, oferecia em voz alta: - Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né! Dona Assunta administrava a cozinha, Amelinha ficava no caixa, mais passava cartão do que recebia. Estava funcionando um exemplar da microempresa brasileira. – Cadê o Gordo? Era a pergunta geral. - Ele foi para Puta que Pariu! – respondeu Magrão. Todos queriam saber se esse lugar existia. Ele explicou que é um bairro do município mineiro. - Então pode mandar que o lugar existe? – perguntou Banguelo. - Pode. Lá todos os fdp são bem recebidos! - brincou Magrão. Todos riram de balançar a pança. Subversivo disse que o Miltão havia conseguido novo emprego, pois recebera um convite da Skol. Dona Moranga ficou de prontidão, pois coisa boa não vinha daquela boca de latrina. Subversivo intimidou-se ao ver a cara do Miltão. E foi desafiado: - Fale, palhaço, não é homem não? – disse o futuro injuriado. A turma que gosta de ver o circo pegar fogo, gritou logo: - Conta! Conta! Conta! Subversivo não teve escolha, enfrentou a parada. - Miltão vai ser garoto propaganda da Skol. Ela achou o cara que vai mostrar o redondo. Nem preciso dizer, caro leitor, que houve cadeiras voadoras, pescoções distribuídos democraticamente, chutes na canela. Até que o Faca Amolada deu o grito de paz: - Rodada por conta da casa! Todos pararam. Carentes do grito de Faca Amolada. Os copos foram enchidos. Caneta Louca certamente fez alguns risquinhos a mais nas comandas. E as bocas se calaram, com a voz afogada naquele mel precioso.
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