AGENDA CULTURAL

2.11.08

Bola pra frente

Ricardo de Carvalho Duarte, o Chacal


Hélio Consolaro

Na quinta-feira, o Sesc nos presenteou com Tom Zé, Chacal e outros artistas. Dois poetas, dois praticantes da loucura, pois ser normal é muito chato.

Com 72 anos, Tom Zé (Antônio José Santana Martins) dizia a toda hora, durante o show, que tinha ligação especial com Araçatuba, pois a cidade havia acolhido o seu filho, Dr. Everton Pontes Martins, oncologista. Em vez de cantar antigos sucessos, viver à sombra do passado, tem energia para praticar a música experimental.

Não é como certos velhos que só ouvem ou cantam boleros, quando muito, chegam à bossa nova. Ou escrevem só coisas do passado, como se o presente fosse coisa ruim. O passado existe, mas não para ser vivido. Tom Zé é bola pra frente!

Ver aquele serelepe no palco com uma banda, experimentando sons, desmontando violão. Já tinha ouvido e lido muitas entrevistas de Tom Zé, mas ao vivo fica muito melhor. Ainda mais, tomando uma cervejinha com o casal André Luís Gonçalves e Neire Santos, membros do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras.

Tom Zé participou da Tropicália, mas passou a década de 1970 e 1980 com seu “pop experimental” em álbuns meio herméticos, sem atrair a atenção do grande público. No final dos anos 1980, é redescoberto pelo músico David Byrne (ex-Talking Heads), em uma visita ao Rio de Janeiro, que lança sua obra nos Estados Unidos, para grande sucesso de crítica também na Europa. O seu álbum “Com Defeito de Fabricação”, em 1998, foi eleito um dos dez melhores álbuns do ano pelo The New York Times. Pronto. Se é bom para os Estados Unidos, o Brasil cai de joelhos.

Na terça-feira, Tom Zé embarca com o ministro da Cultura Juca Ferreira, vão para a ONU. Talvez cantará “ONU, arma mortal”. Dizer aos donos do mundo que a paz é possível. Mostrar às pessoas que a vida é um fascínio, uma experimentação a cada minuto.

Outro artista que me encanta, com seus poemas lúdicos, é Chacal, 57 anos. Se um poeta lembra o outro, sua poesia traz Mário Quinta, com um pouco mais de ligeireza, esperteza. Começou como poeta marginal, mimeografando seus poemas e vendendo-os nas ruas do Rio de Janeiro. Precedendo Tom Zé no palco, recitaram, declamaram, leram seus textos: Chacal, Cadão Volpato, Fausto Fawcett e Flávio Santos. Um espetáculo à parte para quem gosta da literatura em voz alta.

Chacal, numa entrevista ao “Jornal Hoje em Dia”, 10/07/07, Chacal mandou seu recado aos poetas: "Os poetas precisam parar de lustrar seus umbigos e voltar a falar com seus semelhantes. Se não conseguirem fazer isto, é melhor que deletem o que chamam de poesia".

Reproduzo aqui o poema “Reclame”, de Chacal: “se o mundo não vai bem

a seus olhos, use lentes .../ ou transforme o mundo. / ótica olho vivo /agradece a preferência”.

Não sei se ser louco é vida, mas quando encontro esses malucos pelo caminho, sinto que ainda não morri e nem me esqueci de cair.


Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

O Chacal nao parece o Dilador?