
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos no Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, corriam aquele chão, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma cerva bem gelada!
- Uma porção de calabresa!
Seu Sugiro, lá da calçada, já ofereceu gritado seu filé miau. Dona Assunta administrava a cozinha, Amelinha ficava no caixa, mais passando cartão do que recebendo.
Dr. Duas Caras entrou, e de forma bajuladora foi recebido pelo Faca Amolada. Senta aqui doutor, por favor. E, num piparote, o advogado fez o pedido. Imediatamente, vieram duas cervejas, uma clara e outra escura, que eram tomadas à carioca. O doutor, como o chamam no boteco, soltou a gravata, passou as mãos no cabelo tomado por gel, estava se descontraindo de mais um dia de trabalho, quando Magrão lhe fez uma pergunta:
- Que o senhor achou da vitória de Barak Obama nos Estados Unidos?
Como Dr. Duas Caras ainda estava sóbrio, a resposta veio cheia de ponderações:
- Os povos oprimidos das Américas, tanto do Norte como do Sul, estão assumindo o poder depois de 500 anos de colonização branca. Os norte-americanos aprenderam com o Brasil.
Todos aplaudiram a resposta, mas a conversa continuava, passando por todos os assuntos e temas. Até que Magrão viu que o Dr. Duas Caras estava no ponto para dar a outra resposta, pois havia perdido a sobriedade. E assim o fez. E as palavras saíram molhadas:
- Poder é poder, não importa quem o ocupe. Não existe dominador bom, seja negro ou branco. A exploração norte-americana sobre o mundo vai continuar como antes. Esse romantismo é palhaçada da imprensa! E subiu na cadeira, como se estivesse num palanque estudantil:
- A mudança só vem pela revolução!
Subversivo teve orgasmos contínuos! Gritava como doido:
- Até que enfim encontrei alguém que pensa como eu!
E fazia com a boca, como se estivesse empunhando uma metralhadora:
- Ra-tá-tá-tá-tá-tá...
Miltão pulou na frente do Subversivo e gritou:
- Aqui não é terra de Fidel Castro, seu fdp!
Nem preciso dizer, caro leitor, que cadeiras voaram, houve pescoções para todos os gostos. Até que Faca Amolada gritou:
- Rodada por conta da casa!
E nada! O quebra-pau continuava. E ele repetiu:
- Cacete! Rodada por conta da casa!
E todos pararam para saborear o mel dos deuses. A gritaria foi calada pelos copos repletos. Caneta Louca ia disfarçadamente marcando tudo na comanda. O capitalismo vigorava.
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