AGENDA CULTURAL

9.11.08

Obama Bin Laden


Hélio Consolaro

As pessoas estão admiradas. Os norte-americanos elegeram um negro para ser presidente do país. A mídia parece mariposa se batendo em torno da lâmpada. Como escreveu o poeta José Geraldo Martinez: “O mundo racista continua olhando o presidente negro e não o presidente!”
No dia 11 de setembro de 2001, a Al-Qaeda deu um presente para o povo norte-americano com o ataque às torres gêmeas. Alguns podem dizer que seja o cavalo de tróia. Israel já está preocupado, mas isso não é tema para esta crônica, fiquemos na negritude de Barak Obama. O novo presidente dos Estados Unidos não é moreninho, mulato, como se diz por aqui, numa linguagem disfarçadamente preconceituosa. Lá as coisas são mais bem definidas: se tem um pé na cozinha, é negro, nada de eufemismos. Trata-se de um conceito político, nada biológico. Questões de matizes, porque tanto lá como cá, não é fácil carregar a pele escura. Os desvalidos, os escravos, os índios, os oprimidos e explorados pela colonização branca, depois de 500 anos, tornam-se o outdoor das Américas. Nada mais justo. E só chegam ao topo os políticos desses segmentos que assumem um discurso geral, amplo, em nome da nação, sem pregar o rancor de raça ou de classe. Os facciosos podem até ganhar uma eleição, mas não governam, a não ser pela dominação, pela força. Alguns brasileiros fazem uma pergunta: Barak Obama se elegeria presidente no Brasil? Creio que sim. Há uma elite, brasileira, preconceituosa que só vota em gente fina, aquela que soltou e-mails mil contra o Lula, mas felizmente ela está sendo colocada na sua devida insignificância. Não é possível numa civilização que se diz cristã e democrática o desprezo pelo outro por qualquer motivo, embora padres, pastores e outros religiosos cometam tal sacrilégio. Mas também não nos entusiasmemos. Barak Obama é negro, mas é presidente de um império. Os imperadores são cruéis. Liguemos a eleição na corte à comemoração dos 100 anos de Machado de Assis, outro negro, que disfarçou a sua negritude para poder sobreviver, mas construiu uma cena fantástica no livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Brás Cubas, branco, senhor, encontrou na rua o negro Prudêncio, aquele em que ele, protagonista, andava a cavalo e chicoteava-o quando era moleque. Então, o negrinho, agora adulto e liberto, comprara um escravo e estava açoitando o irmão de raça. Aprendera a ser um opressor durante a infância. A família é um ninho de amor, mas é nela que são formados os preconceitos mais rancorosos. Barak Obama não é o negro Prudêncio, mas os processos se repetem. Pelo sim ou pelo não, festejemos Obama! Já que estamos em processo de desconstrução, está chegando a hora de o Vaticano ter um papa negro. Ou Deus só protege os brancos?

5 comentários:

JuarezFrmno disse...

Parabéns pelo post alusivo ao presidente eleito norte-americano... Muito bom. Gostei, inclusive da correlação entre a condição deste com a da personagem de Machado. Um texto profícuo e imprescindível para que o leitor possa, em partes, entender e conviver com a inusitada novidade de o poder do império estar nas mãos das minorias.

Beatriz Nascimento disse...

Adorei a crônica, só não captei o título...

Bjoxxx

Anônimo disse...

E o PITA ?
Era o que ?
Nao era preto ?
Era moreninho ?
Ou vai dizer que era filhinho de criacao do branco maluf ?
E o dinheiro da Unicef que desapareceu da mao daquele moreninho bao de bola que tem nome de café ?
Qual sao mais ladroes ?
Dois de dois pretos no poder
ou dois milhoes de dois milhoes de brancos no poder ?
meu filho,os problemas humanos nao tem cor,nao sao os brancos os causadores da miseria humana,sao aqueles que nao conseguem ver aquilo que esta alem da cor,os cegos da verdade, os criadores da confusao.

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Com todo o respeito ao poeta digo que não sou racista e vejo um presidente negro.
Aliás, negão...tão negão quanto meu avô o era.

Patrícia Bracale disse...

Ninguém acerta ou erra pela cor da pele.
Governar não será fácil e torço p/ q/ todos os presidentes errem o menos possível.