
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava lotado. Gente saindo pelo ladrão, se fosse caixa da’água. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma quadrada bem gelada!
O primeiro gole era sempre do santo, o Onofre, que de seu nicho, lá de cima, observava indiferente os exageros dos barrigudinhos. Dona Assunta sofria com essa prática, pois, se deixasse, o chão do boteco virava lama, por isso saía da cozinha a toda hora, com rodo e pano, para limpar o ladrilho.
- Uma porção de peixe frito!
Seu Sugiro logo gritava lá da calçada, onde estava instalado com sua churrasqueira:
- Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né!
Amelinha, a filha do casal, ficava no caixa. Assim estava instalada mais uma microempresa brasileira.
Bicho Grilo trouxe um cartaz que foi fixado na parede. Em vez de Obama, desenhou um copo e escreveu “Se Barak é bom, o chope é Obrahama!”.
Todos aplaudiram.
Dr. Duas Caras, já pra lá de Bagdá, subiu no banquinho para fazer discurso:
- Vocês ficam aplaudindo o neguinho só porque é vitorioso. Quero ver vocês aplaudirem o nosso querido Passo-Preto, e apontou o novo freguês do bar. Palmas para ele!
E todos bateram palmas.
E continuou:
- Aqui na cidade, negro só sai em coluna social, quando chegaram por aqui ministros dos países africanos. Aliás, Cido Sério, com pés e mãos na cozinha, não era colunável nem como deputado estadual, mas como prefeito...
Miltão encostou, deu uma tossidinha. Como a dizer: estou aqui, fale pouco.
E continuou Dr. Duas Caras:
- Os políticos, amigos do Miltão, estão se engalfinhando, quase freqüentando a coluna policial!
Foi a senha para que Miltão urrasse, jogando cadeiras pra cima. Corre daqui, corre dali. Os barrigudinhos protegeram Dr. Duas Caras, outros seguraram Miltão. E o Faca Amolada gritou:
- Rodada por conta da casa!
A raiva foi substituída por copos geladas, cheios de alegria.
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