AGENDA CULTURAL

15.11.08

Na coluna policial


Hélio Consolaro


O boteco Bate Forte estava lotado. Gente saindo pelo ladrão, se fosse caixa da’água. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma quadrada bem gelada!

O primeiro gole era sempre do santo, o Onofre, que de seu nicho, lá de cima, observava indiferente os exageros dos barrigudinhos. Dona Assunta sofria com essa prática, pois, se deixasse, o chão do boteco virava lama, por isso saía da cozinha a toda hora, com rodo e pano, para limpar o ladrilho.

- Uma porção de peixe frito!

Seu Sugiro logo gritava lá da calçada, onde estava instalado com sua churrasqueira:

- Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né!

Amelinha, a filha do casal, ficava no caixa. Assim estava instalada mais uma microempresa brasileira.

Bicho Grilo trouxe um cartaz que foi fixado na parede. Em vez de Obama, desenhou um copo e escreveu “Se Barak é bom, o chope é Obrahama!”.

Todos aplaudiram.

Dr. Duas Caras, já pra lá de Bagdá, subiu no banquinho para fazer discurso:

- Vocês ficam aplaudindo o neguinho só porque é vitorioso. Quero ver vocês aplaudirem o nosso querido Passo-Preto, e apontou o novo freguês do bar. Palmas para ele!

E todos bateram palmas.

E continuou:

- Aqui na cidade, negro só sai em coluna social, quando chegaram por aqui ministros dos países africanos. Aliás, Cido Sério, com pés e mãos na cozinha, não era colunável nem como deputado estadual, mas como prefeito...

Miltão encostou, deu uma tossidinha. Como a dizer: estou aqui, fale pouco.

E continuou Dr. Duas Caras:

- Os políticos, amigos do Miltão, estão se engalfinhando, quase freqüentando a coluna policial!

Foi a senha para que Miltão urrasse, jogando cadeiras pra cima. Corre daqui, corre dali. Os barrigudinhos protegeram Dr. Duas Caras, outros seguraram Miltão. E o Faca Amolada gritou:

- Rodada por conta da casa!

A raiva foi substituída por copos geladas, cheios de alegria.

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