Virada não é Expô

Hélio Consolaro*

Participei desde a primeira Virada Cultural Paulista – edição 2007 – em Araçatuba. Em 2007 e 2008, como espectador. Fiz até uma crônica em 2007 a respeito, elogiando a iniciativa. Em 2008, achei a grade de shows bem popular, com raríssimas exceções.
Neste ano, 2009, sou o secretário e tive oportunidade de pôr minha colher de pau nela. Um secretário municipal não escolhe o artista que quer, há limitações, como custo do cachê, disponibilidade do artista. E nessas coisas, quem está em São Paulo possui a colher de pau maior.
Houve até um zunzunzum de que as grades de show de prefeituras tucanas foram mais privilegiadas. Não acredito nisso, seria muita mesquinhez diferenças partidárias interferirem em questões culturais.
Os artistas locais tiveram oportunidade de se inscrever. E como escritor secretário, pedi que houvesse algo específico de literatura, com a presença de escritores forâneos. A Secretaria Estadual de Cultura não providenciou ninguém de fora, nem mesmo da região. Assim, fizemos uma tarde literária de nós com nós mesmos no teatro Paulo Alcides Jorge. E foi muito bom: 150 pessoas se fizeram presentes.
Aliás, na grade da Virada Cultural constou “Sarau literário” às 14h. Cometeu-se um erro, porque sarau só se faz à noite. Foi, na verdade, uma tarde literária.
A Secretaria Estadual de Cultura divulgou a grade de gente em cada cidade, está no blog da SMC: www.secretariacult.blogspot.com. Araçatuba não ficou bem classificada, compareceram 26.300 pessoas. Houve o frio, e o araçatubense não gosta de temperatura amena, não sai de casa quando isso ocorre.
Não deve haver disputa de tamanho de público entre as cidades. A Virada deve dar oportunidade ao artista que não está na mídia, e o grande público tem o direito de também saborear biscoito fino e não ficar só vendo o programa do Faustão. A Virada Cultura Paulista não pode virar Expô, só trazer artistas midiáticos.
Por aquilo que o município de Araçatuba gastou, R$ 94.500,00, mais algumas coisas como luz, funcionários, limpeza, cada espectador custou apenas R$ 4,00. Suponhamos que, com a parte do governo estadual, o custo chegue a R$ 10,00 por pessoa. Valeu a pena, porque as pessoas assistiram a vários espetáculos. Além do mais, Titãs cantaram: “A gente não quer só comida,/ A gente quer comida, diversão e arte”.
No próximo ano, mais literatura e que os artistas araçatubenses tenham oportunidade de se apresentarem noutras cidades, como já acontece com as Folias de Reis.

· Hélio Consolaro é escritor, jornalista, membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.