AGENDA CULTURAL

20.5.09

A praça do boi

Monumento ao boi na Praça Rui Barbosa, de Cacilda Dias
Hélio Consolaro

A praça é Rui Barbosa, a cidade é Araçatuba. A praça era do boi, da fonte luminosa, mas era também do povo: do footing, do namoro, das paqueras. Por dentro, as madeimoselles; por fora, as empregadas domésticas.
Naquele tempo, lavrador e vaca formavam sítio e cidade. O leite do curral era vendido líquido em carroças pelas ruas. O açúcar, o sal, a chita faziam a viagem de volta.
Água Limpa, Taveira, Cafezópolis, Prata, Pratinha, Jacutinga, Brejinho, Água Funda, Traitu, patrimônio da Mata, Vicentinópolis. As roças, na colheita, eram branquinhas... Tomadas pelo algodão. Nem tudo que é branco é pureza. Monocultura não é a solução. Veio novamente a derrocada.
Colonião e braquiária. O rei do gado se impôs, em cada pé de café amarrou um boi. Mineiro chegando, consultando a carteira, meio desconfiado. Era gado novo. Fim do Reino Encantado. O peão desceu do cavalo e subiu na bicicleta. A bóia não era mais quente.
Na cidade, Tião Maia inaugurava frigorífico, andava com políticos famosos: Juscelino Kubitschek, Jango Goulart; na estrada boiadeira, Tião Carreiro cantava moda de viola, punha em suas letras os pecuaristas da região.
A praça ficava bem no meio da fazenda. O boi, bem no meio da praça. Onde fica a fazenda? Onde está a cidade? Na Rui Barbosa, instalavam-se a bolsa de valores, oitis, fícus e flamboaiãs.
- Quanto custa a arroba do boi?
- Vai lá na praça Rui Barbosa, uai!
A cana invadiu as fazendas, não há mais ipês, cedros e aroeiras. Urubu faz ninho nas sacadas de apartamentos. A Expô virou festa popular; a Feicana é lugar da fazenda.
Aí surgiu uma prefeita, saudosa do passado, que mandou fazer uma estátua bovina bem na praça Rui Barbosa. Na inauguração discursou:
- Pra ninguém esquecer que essa foi a Praça do Boi!
*Hélio Consolaro é escritor, jornalista, membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

Nenhum comentário: