AGENDA CULTURAL

12.3.10

Dia da Poesia


Hélio Consolaro*




O texto poético é, pois, aquele em que a função poética se sobrepõe às demais e delas se destaca, sem eliminá-las. (Mário Laranjeira, Poética da Tradução, Ed. Edusp).


Neste domingo, 14 de março, comemora-se o Dia Nacional da Poesia. Esse dia foi escolhido porque nele nasceu o grande poeta brasileiro Castro Alves que, por ser um militante político, transformou alguns de seus poemas em mensagem catequética contra a escravidão e a favor da república.


O termo mais técnico para designar um texto escrito em verso seria “poema”, mas a maioria da população chama qualquer composição versificada de poesia.


Se com o barro, o oleiro faz o tijolo, objeto útil na construção de casas, o escultor usa a mesma argila para fazer uma obra de arte cuja função maior é encantar as pessoas; com as palavras também ocorre isso, nos comunicamos diariamente em nosso cotidiano com as mesmas palavras com que o poeta constrói seus poemas.


Um poema pode ter ou não poesia. Se for um texto que não toca o leitor, ele é apenas um poema (amor é prosa). Para se ter poesia, ele precisa arrepiar o leitor, deixá-lo encantado com aquela combinação de palavras (poesia é sexo). É bom dizer que um texto poder ser poético para uma pessoa e totalmente frio para outra. Não dizemos que as pessoas são diferentes?... A sensibilidade também.


Para os parnasianos e seus seguidores, só há poesia se houver métrica (simetria na contagem das sílabas) e rima (harmonia entre os sons finais de cada verso). A emoção é contida, necessita-se encaixar a mensagem naquela fôrma. É uma forma cômoda de trabalhar a linguagem.


Os poetas românticos são libertários, o pulsar do poeta, a sua emoção é que deve ritmar o poema. Os poetas modernistas, brasileiros, fizeram uma revolução contra a poesia parnasiana, chegaram prosear em versos. Mas todo o movimento renovador precisa da radicalidade, pois é a juventude chegando com seus novos valores. Um jovem cordato, moderado, pode ser um velho precoce, já escreveu Jorge Amado.


No processo criativo, o primeiro insight produz um texto sob forte emoção, imperfeito, depois o poeta vai revisando, burilando, deixando que a função poética da linguagem se sobressaia às demais.


Manuel Bandeira, que nunca foi parnasiano, demorou 20 anos para compor Pasárgada, por isso que ele é uma composição tão bela.


O verso pode ser livre e branco (sem simetria e rima), mas o poeta não pode abrir mão do trabalho com a linguagem. Dar ritmo a um poema sem rima e métrica é bem mais difícil e trabalhoso.


Sem contar que ser poeta é ver o mundo com estranhamento, como canta Peninha: “Quando a poesia realmente fez folia em minha vida”.

2 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Eita que eu tenho por demais para aprender...
Parabéns aos que tem coragem de escrever.

Samuel Marini disse...

Mandou muito bem!!!!