AGENDA CULTURAL

4.11.10

Grafiteiros deram a lição

Foto do jornal Folha da Região mostra a reação dos grafiteiros quanto
ao apagamento de seus grafites feito pela EE Manoel Bento da Cruz 

Hélio Consolaro*

Ultimamente, o país vive um clima de intolerância religiosa. Ela está subliminar, mas lateja. Como pessoa, tenho a minha fé, a minha religião, mas não posso impor os meus critérios aos outros, nem mesmo como secretário da Cultura. A inquisição não pode voltar.

O poder público (Estado) é laico, a monarquia brasileira ruiu há mais de século, vivemos o liberalismo, que foi iniciado pela Revolução Francesa. Não queremos voltar às guerras santas da Idade Média.

Se Cristo voltasse, ele ia ter que começar tudo novamente, escorraçar os fariseus, aqueles que vivem de aparência religiosa e falam em seu nome, valorizam mais os preceitos do que a própria vida.

O moralismo religioso de fachada quis ver o candidato José Serra (PSDB) com terço na mão e Dilma Rousseff (PT) rezando, quando sabemos que os dois podem ser ótimas pessoas, mesmo sendo apenas espiritualistas, não confessando credo algum. Temos ateus que são muito mais gente do que muitos que  batem no peito, dizendo “estou salvo”.  É possível chegar a Deus sem passar pelas igrejas. Mas isso é outra discussão.

A lição não veio da escola infelizmente. A grande lição de democracia surgiu do fundão da sala de aula, daqueles que não se enquadram à quadratura da vida proposta e buscam liberdade.

Estou me referindo à grafitagem feita no muro da EE Manoel Bento da Cruz, em Araçatuba, que foi estimulada por outra secretaria do mesmo governo estadual. Diante da discussão do assunto proposta pelo Promotor de Justiça da Infância e da Juventude, Lindson Gimenes de Almeida, a escola, medrosa, preferiu cometer o crime de violar, apagar a arte feita em seus muros, enfeitando a nossa feia urbanidade.

Como a grafitagem é uma arte vindo da marginalidade, como acontece a tudo que é novo no campo artístico, reagiu a contento, mandando a sua mensagem: “O grafitti nasceu livre, e não será você que colocará algemas!!”. E concluiu: “O Brasil é o único país onde a arte é crime e a corrupção é arte”.

Essas duas frases dispensam este artigo. As duas nos dão muitos tapas na cara. Gente que não conhece nem a cultura Greco-latina e se mete a ser censor, como se essa função fosse digna.

Como secretário da Cultura de Araçatuba, apenas escrevo este artigo para me solidarizar com os grafiteiros, como a qualquer segmento artístico que venha a ser limitado, castrado por ideologias que não tolerem a liberdade de expressão.

Boa lição de casa, grafiteiros. A escola, mais uma vez, ficou a desejar.

*Hélio Consolaro é secretário municipal da Cultura de Araçatuba.

Ler também:
http://www.ritalavoyer.blogspot.com
Artigo sobre o assunto 

4 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Liberdade com Arte transforma tempo e espaço

ZRG Sons e Vínculos disse...

Acabaram com a obra do Nuno Ramos na Bienal, apagaram os grafites do IE, proibiram o Monteiro Lobato nas escolas.... em nome do politicamente correto executam-se ações politicamente incorretas.
Zrenato.

Francisco Silva disse...

Olá Hélio, tudo bem. Obrigado pela visita.

Abraços.

Ventura Picasso disse...

Saravá Hélio:
É afolha de parreira castrando a arte verdadeira!