AGENDA CULTURAL

10.3.11

Os sultões do Brasil





            Por certo muito indignado, o povo brasileiro, claro, algumas poucas exceções, acaba de ver novamente, como se a uma péssima ficção, os que elegeu para assegurar interesses ao bem comum, desavergonhadamente  pilhá-lo.
            Sultões refesteladamente instalados nos feudos-palácio – do governo, do legislativo e da justiça --, eleitos por seus súditos que são obrigados a votar ou votar, “legislam”, sentenciam e “governam” substancialmente em causa própria.
            Como se não lhes bastassem casa, comida, roupa lavada, transportes, motorista, seguranças, pajens, magote de assessores, jetons, salário mensal nababesco, em média de R$ 15.000,00, 15º salário, tudo custeado por “seu povo”, acabam de decretar que esse minguado salário mensal se eleve à ordem de R$ 26.723,13. Um ínfimo reajuste que fica entre 61,83% a 148,63%.
            Enquanto isso, os miseráveis, que há muito tempo são mais de 50% abaixo da linha de pobreza; os pobres que se esperneiam pela sobrevivência com o salário mínimo; os remediados que se contentam com um pouco mais vão se esfalfando para que a vida desse modo se sustente, tendo ainda que destinar uma quantia para garantir aquela vida daqueles sultões.
            Afirma-se que o País veio paulatinamente tendo um crescimento econômico que o coloca hoje como um dos principais chamados emergenciais do mundo. A ser mesmo verdadeiro, tal se operou fundamentalmente em razão do trabalho de seu povo. Desde os mãos de obras simples e complexas, desde os produtores agrícola e industrial aos profissionais liberais em geral.
            Portanto, assim, os nababescos senhores sultões (e senhoras sultanas) vão sempre, ciosos de não perder tempo e ocasião, inovando e renovando leis e decretos que lhes possibilitem cada vez mais ampliar e aprimorar seu enorme lastro patrimonial.
            Isto naturalmente em detrimento da falta crônica de recursos para uma vida modesta, mas justa e confortável aos reais responsáveis pelo dito P.I.B, cujo saldo positivo não lhes chega à mesa, aos bens educacionais, aos bens culturais, à estabilidade empregatícia, ao real poder de compra, enfim a uma digna qualidade de vida.
            Chegam-lhes, sim, os escorchantes impostos de renda (nenhuma); prediais; de operação financeira; sobre a propriedade de veículos automotores. Chegam-lhes, sim, taxas municipais (cuja retribuição sempre fica muito, muito a desejar); taxa de licenciamento de veículos; taxas bancárias; taxas de cartão de crédito; taxa telefônica; pedágios, etc, etc, etc.
            E, como publicamente insinuou um deles, a farsa logo passa. Daqui a pouco, muito daqui a pouco, ninguém se lembra mais disso, e eles ficam tranquilamente indo e vindo do palácio em que estão instalados para  suas soberbas propriedades, cujos custos advêm do suor do povo.
            Fazer o quê? A seguir a canção de Chico, dever-se-ia chamar os ladrões. Mas eles também excederam, incomodaram demais a paciência e conivência dos sultões e estes resolveram passar-lhes um corretivo, botando em seu encalço as FORÇAS ARMADAS, escorraçando-os, para que se toquem e não sejam exagerados. E, daqui a pouco, isso também passa e tudo volta a ser como dantes nos palácios e morros dos Abrantes.
            Verdadeiramente, no entanto, certo e eficaz seria evocar a Revolução Francesa e pôr abaixo os direta e indiretamente responsáveis pela miséria do povo; pelas muitas explorações do povo; pelas tragédias cíclicas sempre anunciadas: enchentes, doenças epidêmicas, favelas; pelas tragédias endêmicas: educação e saúde ao povo vergonhosas.
            Mas como? Parece termos perdido por completo as grandes lideranças capazes de articular as mobilizações sociais que, embora efêmeras, nossa história registra. Isso tudo que aí está não é suficiente para um grande movimento social? Só o fazemos sob as nefastas ditaduras? E o que se passa não é tão devastador ou mesmo pior?
            Os movimentos estudantis foram exterminados por meio da educação de consumo alienadora. E os sindicatos, ontem tão fortes e politizadores contra os “pelegos” a serviço do governo? Por certo dormem. Estão todos dormindo, dormindo confortavelmente sobre, agora seus, novos pelegos.   

*Tito Damazo é doutor em Letras, poeta, membro da Academia Araçatubense de Letras e da UBE.        

Um comentário:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Ah! pudéssemos repetir o que os franceses fizeram , armados com foices, martelos, ancinhos ( que nome ) .Derrubaram a Bastilha...Brasília, seria mais fácil. Ocorre que os que poderiam liderar....locupletam-se.