AGENDA CULTURAL

7.4.11

O poeta, ensaísta e tradutor comenta a ligação com o surrealismo, gnosticismo e com a poesia marginal

Li  a entrevista do Cláudio Willer na  Revista E-Sescsp - de papel, onde  há mais fotos dele. A cabeça desse  sujeito  é muito  avançada para o tipo de  roupa  que  ele usa. Parece  que lhe deram  um banho de  loja antes da entrevista. Ele já foi  mais informal noutras  fotos da  internet. Observações de um blogueiro. 

foto: Adriana Vichi

REVISTA E - SESC SP

Sopa de Letrinhas apresenta Claudio Willer






Poeta herdeiro do movimento Beat dos anos de 1960, Claudio Willer mantém até hoje profícua produção literária. Publicou Um Obscuro Encanto – Gnose, Gnosticismo e Poesia Moderna (Civilização Brasileira, 2010); Geração Beat (L&PM Pocket, 2008); Lautréamont – Os Cantos de Maldoror, Poesia e Cartas (3ª edição, Iluminuras, 2008); e Estranhas Experiências (Lamparina Editora, 2004), entre outros.

Todo o esforço de sua geração foi afirmar a poesia como parte integrante da vida, eliminando antagonismos que separam a literatura do cotidiano. Willer afirma durante entrevista para a Revista E passar longe daquilo que define como visão burocrática da literatura.

“Não sou poeta do tipo cerebral, não pertenço à família dos poetas inteligentes, evito interpretar o que escrevo”, declara. Ao mesmo tempo, preza manter-se em contínuo polo de tensões. Acredita que poesia se faz pela diversidade e segue contra fórmulas preestabelecidas pelo mainstream.

Seu livro Um Obscuro Encanto – Gnose, Gnosticismo e Poesia Moderna, lançado em 2010, é resultado de sua tese de doutorado. Qual a implicação do gnosticismo com a poesia e o que esse assunto tem a ver com sua aventura intelectual?

Estabelecer essa relação direta do gnosticismo com a poesia seria uma boa tarefa para críticos e leitores. Como não sou poeta do tipo cerebral, como não pertenço à família dos poetas inteligentes, evito interpretar muito o que escrevo. O tema gnosticismo, a religião segundo a qual o mundo é regido por um deus incompetente e obtuso e segundo a qual a salvação é alcançada através do conhecimento, é um tema que me acompanha mais do que pensava.

Meses atrás, fui convidado para dar uma palestra sobre Hilda Hilst [1930-2004] em um evento literário em Campinas. Encontrei um texto de 1987, que tinha escrito para a revista Isto É, uma resenha de Com os Meus Olhos de Cão, coletânea de textos em prosa da Hilda. Para minha surpresa, desde aquela época já a relacionava com o gnosticismo, por causa das representações de Deus em sua obra, das blasfêmias, da procura de um conhecimento identificado à revelação poética.

Nessa ocasião, a mesa de que participei era formada pelo jornalista Gutemberg Medeiros, amigo e frequentador da poetisa. Ele me contou que, quando essa resenha saiu, ela leu e disse: “É, esse aí me entendeu”. Ou seja, essa abordagem do gnosticismo é um percurso de críticas, de interpretação de textos que vem de antes. Juntei pedaços, fragmentos, até compor esse livro atual.

A primeira parte de Um Obscuro Encanto faz um apanhado histórico, tomando posição nas várias interpretações possíveis sobre o tema, visto que foi uma doutrina muito presente nos primeiros séculos da era cristã. Na segunda parte do livro, examino como é o gnosticismo em diferentes poetas, de William Blake a Hilda Hilst, passando por Gérard de Nerval, Novalis, Charles Baudelaire, Fernando Pessoa, Arthur Rimbaud [poeta francês, 1854-?-1891], entre outros.

Já houve quem estabelecesse relações entre aspectos das obras desses poetas e características do gnosticismo, orém meu ensaio contribui na medida em que revela que todos eles assimilam ou releem o gnosticismo de um modo completamente diferente, mostrando que a poesia é o reino da diversidade, da heterodoxia, assim como a própria doutrina gnóstica.



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