AGENDA CULTURAL

17.4.11

Pense antes de compartilhar pela internet


Parece não ser óbvio para muitas pessoas, principalmente jovens, algumas das implicações de compartilhar sua vida na web: nem tudo é privado por padrão
RENAN DISSENHA FAGUNDES-  REVISTA ÉPOCA

Como ensinar sobre privacidade na web para crianças e adolescentes? Melhor mostrar do que só avisar, de acordo com uma escola americana. A Old Saybrook High School, em Connecticut, levou alunos do primeiro ano para uma palestra sobre segurança na internet e não ficou apenas no papo sobre cyberbullying e os perigos de se expor demais: a apresentação foi ilustrada com fotos e textos dos alunos, direto do Facebook e do Twitter daqueles que tinham deixado seus perfis públicos. Ver suas próprias fotos em festas expostas na escola ajudou alguns estudantes a entenderem melhor o alcance público da internet. Outros, sentiram que sua privacidade havia sido invadida e que a escola devia ter pedido para usar as fotos - que estavam todas disponíveis publicamente na web. Teve quem fosse para o Twitter chamar a escola de “corrupta”.

O caso acima ilustra uma situação que parece ser comum entre os jovens: apesar de passarem cada vez mais tempo usando a internet, e principalmente as mídias sociais, muitos adolescentes não compreendem claramente a confusão criada entre público e privado na rede. Uma coisa é expor coisas pessoas na web sabendo que a tecnologia tornou a ideia de privacidade mais difusa; outra coisa é ver suas fotos na balada numa apresentação da escola e sentir que sua privacidade foi invadida. Mauricio de Souza Lima, médico hebiatra (ramo da medicina que estuda os adolescentes) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), afirma que os jovens tendem a fazer algo antes de pensar nas consequências. “Meus pacientes falam que digitam antes de pensar”, diz.

Privacidade na rede é decidir quem tem acesso às suas informações pessoais. Quem vai poder ver suas mensagens no Twitter, suas fotos no Facebook? Se for todo mundo, vai ser todo mundo: não dá para reclamar depois de invasão de privacidade. Por outro lado, é possível escolher compartilhar só com amigos próximos. Mark Zuckerberg, criador do Facebook, queria a primeira opção: todo mundo. Os usuários, principalmente nos Estados Unidos, não gostaram muito e pressionaram a empresa para conseguirem mais controle sobre as preferências de segurança - mas a configuração inicial, se nunca alterada, ainda é bastante permissiva. Privacidade não é exatamente um ponto-chave da cultura brasileira, como é da americana.

Outra questão é: quanto você quer se expor? Publicar para qualquer pessoas o endereço de casa ou o telefone celular não é uma boa ideia, mas mesmo que as informações sejam visíveis só para amigos, o bom senso ainda é válido para decidir o que deve ser escrito e que fotos devem ser compartilhadas. “Crianças e adolescentes talvez não estejam cientes das várias camadas da privacidade”, afirma Rogério Abreu de Paula, diretor de inovação da Intel e responsável por trabalhos etnográficos (método de pesquisa de grupos humanos) na empresa. Abreu, que fez doutorado e pós-doutorado nos EUA, afirma que se assustou quando voltou para o Brasil e viu como as redes sociais estavam sendo usadas aqui. “No começo do Orkut, não havia a noção de privacidade online”, afirma.

A Intel lançou na quinta-feira (14) um projeto para informar como famílias podem participar da internet de forma segura. “Cada vez mais, os computadores familiares dão lugar a computadores pessoais”, afirma Rosângela Melatto, gerente para a área de responsabilidade social da empresa. A ideia da empresa é dar dicas para os pais poderem orientar melhor seus filhos. A campanha se chama Sua Privacidade Online e o material está disponível na página do Facebook da empresa. Há dicas importantes, como tomar cuidado com o phishing (método para roubar informações por emails ou sites falsos) e pensar melhor antes de sair escrevendo e publicando qualquer coisa na web. Outras são mais complexas: ter cuidado com quem você aceita como “amigo” envolve também a discussão do que é “amizade” na internet - e amizade online não se restringe apenas a pessoas conhecidas no mundo real.
“Não tem como controlar, se quer participar o pai tem que estar nos lugares que o filho está interagindo”, diz Augusto de Franco, autor de livros como Dez escritos sobre redes sociais e Tudo que é sustentável tem o padrão de rede. Franco também afirma que “é fundamental ver as coisas positivas” da web. “Se há um comportamento disruptivo, isso também pode estar mudando o comportamento para melhor”, diz. Franco acredita que é a sociedade que determina a tecnologia, e não o contrário: as pessoas não são menos privadas por causa da internet. De qualquer forma, é importante que adolescentes - e adultos também - saibam que a privacidade online é muitas vezes controlável. Dá para escolher ter muita, ou nenhuma.
Dica de ÉPOCA: habilite o HTTPS no Facebook e no Twitter.

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