AGENDA CULTURAL

27.4.11

Secretárias do lar


Hélio Consolaro*

Por acaso, caro leitor, você tem uma mucama em casa? Não! Ter uma, hoje, custa caro. Carteira assinada, 13.º salário, férias e até Fundo de Garantia.
Muitas são mucamas mesmo, tratadas como seres ignóbeis nas casas em que trabalham. Ainda há Donas Inácias por aí, personagem do conto Negrinha, de Monteiro Lobato.
E, hoje, chamam-se empregadas domésticas, aquele resquício de escravidão que a Princesa Isabel não conseguiu abolir de nossos lares em 13 de maio de 1888.
Alguém poderá dizer:
- Consa, você precisa dignificar a profissão delas!
É mesmo! Chamemo-las, então, de secretárias do lar. Ou inventemos um nome em inglês. Apenas eufemismo.
- Mas os eufemismos são dignificantes – dirá outro leitor.
Não discutamos o assunto, deixemos de lado a autenticidade, por que ela dói e provoca dissabores. Como escrevia Machado de Assis: a hipocrisia dá menos problemas.
Mas raras são as meninas que sonham em ser empregadas domésticas, é a última profissão desejada por uma mulher, o desvão da vida. Há as exceções, claro, as Amélias. Apenas algumas se profissionalizam e dizem:
- Sou, e daí?
A Jô, aqui de casa, parece funcionária pública, não trabalha aos sábados, enquanto o patrão dá oito aulas em pleno sabadão. Ela tem telefone fixo, não gosta de celular. Avisa:
- Alô! Não vou hoje, viu!
A cara da Japa azeda. As empregadas são como os carros, quebram na hora errada. Quando a gente mais precisa...
A Jô recebe salário mínimo (grande coisa!), salário família e cesta básica, mas expliquei o bê-á-bá. A Jô tem duas funções na casa do Consa: os afazeres domésticos e levar a culpa de tudo que acontece de errado na casa.
Sumiu o chaveiro. Quem foi? A Jô, claro. Cadê o telefone sem fio? Quem é a culpada? A Jô, claro. Ato terrorista no Iraque. Quem soltou a bomba? A Jô, claro. E ela se escangalha de rir.
Mas ela também leva o descarte da casa. Tudo é para a Jô. Roupas seminovas, móveis usados, etc. Para disfarçar, dizemos que os bagulhos são para o pessoal do São José, onde mora. 
Então, caro leitor, hoje, 27 de abril, é Dia da Empregada Doméstica. O santo do dia é Santa Zita, padroeira da categoria. .
As empregadas doméstgicas são uma multidão de Creuzas, Jocelinas, Neusas que deixam suas casas de ônibus, bicicleta, moto-táxi e vão cuidar de casa alheia, conhecer seus segredos e descobrir que família, seja pobre ou rica, só muda de endereço.
Pelo menos têm um dia (ou uma pia) para comemorar. Quem sabe hoje sai um presente, um abraço ou um dia de folga? Nem que ela seja uma diarista, com um dia semanal de trabalho na casa, ela merece parabéns.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia  Araçatubense de Letras, da UBE e da  Cia. dos Blogueiros. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.


   

Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

Secretária do lar....tá bão!
Elas trabalham, logo são trabalhadoras. Trabalham nas casas, no setor doméstico, logo, domesticas. Então empregada doméstica é correto. O resto é...é...olha que eu digo. Eu fui empregado na indústria química farmacêutica, como eu deveria ser qualificado? Divulgador científico?
Outra coisa, fica dando velharias para a coitada. Compra novo. Na senzala é que levavam os restos mas os patrões nao tinham os cartões de crédito que o senhor tem de montão.