Hélio Consolaro
Ontem à noite, reunimos os escritores de Araçatuba na Casa da Cultura Adelino Brandão para que cada um escolhesse a escola a ser visitada em preparação da 3.ª Semana da Literatura de Araçatuba. Coube a este croniqueiro e secretário da Cultura visitar a Fundação Casa.
- Você é homem, autoridade, fica melhor...
Na verdade, havia receio, estigma.
Sempre quando desenvolvo alguma atividade em confinamentos, como Fundação Casa, Centro de Ressocialização, saio de lá me questionando. As pessoas "boas" deviam visitar tais lugares, pois assim eliminariam uma série de preconceitos.
O Centro de Ressocialização visitei em 2010, quando fui dar uma palestra. A Fundação Casa, unidade 1, em 2009, acompanhando o prefeito Cido Sério numa solenidade de formatura. E agora a unidade 2. Só homens nas três casas.
Todos são bem apessoados, ninguém tem cara de mau. Em vez de presidiários, encontramos gente com a nossa cara. E para assustar os racistas: negro, negro mesmo, nenhum. E lá são bem tratados. Nesta visita, falando de Literatura na 3.ª Semana da Literatura de Araçatuba, tive uma surpresa maior. Na sessão de perguntas, um rapaz levantou a mão e indagou:
- O senhor é pai da Hélen?
- Sim - respondi.
- Ela foi minha professora.
Como minha filha lecionou até o ano passado na periferia de Birigui, fiz uma pergunta estereotipada:
- Em Birigui?
Ele respondeu:
- Aqui mesmo, em Araçatuba. No Colégio N.S.ª Aparecida.
Quase lhe fiz, na hora, uma pergunta idiota, como se pobreza fosse sinônimo de marginalidade: "Como você veio parar aqui, meu filho?".
Depois do fato ocorrido, telefonei à Helen. Ela toda surpresa e preocupada indagou:
- E o nome dele, pai?
Como na hora do fato fiquei embasbaco, nem me lembrei de saber o nome dele. Foi melhor assim. É um nosso semelhante passando por reeducação. Quem sabe, ao sair de lá, se reintegre a nós, os autoproclamados de bons!
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| Fundação Casa 2 - Araçatuba |
Ontem à noite, reunimos os escritores de Araçatuba na Casa da Cultura Adelino Brandão para que cada um escolhesse a escola a ser visitada em preparação da 3.ª Semana da Literatura de Araçatuba. Coube a este croniqueiro e secretário da Cultura visitar a Fundação Casa.
- Você é homem, autoridade, fica melhor...
Na verdade, havia receio, estigma.
Sempre quando desenvolvo alguma atividade em confinamentos, como Fundação Casa, Centro de Ressocialização, saio de lá me questionando. As pessoas "boas" deviam visitar tais lugares, pois assim eliminariam uma série de preconceitos.
O Centro de Ressocialização visitei em 2010, quando fui dar uma palestra. A Fundação Casa, unidade 1, em 2009, acompanhando o prefeito Cido Sério numa solenidade de formatura. E agora a unidade 2. Só homens nas três casas.
Todos são bem apessoados, ninguém tem cara de mau. Em vez de presidiários, encontramos gente com a nossa cara. E para assustar os racistas: negro, negro mesmo, nenhum. E lá são bem tratados. Nesta visita, falando de Literatura na 3.ª Semana da Literatura de Araçatuba, tive uma surpresa maior. Na sessão de perguntas, um rapaz levantou a mão e indagou:
- O senhor é pai da Hélen?
- Sim - respondi.
- Ela foi minha professora.
Como minha filha lecionou até o ano passado na periferia de Birigui, fiz uma pergunta estereotipada:
- Em Birigui?
Ele respondeu:
- Aqui mesmo, em Araçatuba. No Colégio N.S.ª Aparecida.
Quase lhe fiz, na hora, uma pergunta idiota, como se pobreza fosse sinônimo de marginalidade: "Como você veio parar aqui, meu filho?".
Depois do fato ocorrido, telefonei à Helen. Ela toda surpresa e preocupada indagou:
- E o nome dele, pai?
Como na hora do fato fiquei embasbaco, nem me lembrei de saber o nome dele. Foi melhor assim. É um nosso semelhante passando por reeducação. Quem sabe, ao sair de lá, se reintegre a nós, os autoproclamados de bons!
2 comentários:
A quem interessar possa informo que o professor fala do estígma dele mas que eu e a Elaine Alencar também vamos falar de literatura na Fundação Casa. Verdade que não com a mesma propriedade mas um dia chegaremos à mesma, se Ele assim o permitir.
Extorno lançamento supra. Não tem nada de estígma...eu que engrossei vendo o estígma no lugar errado. I am so sorry.
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