AGENDA CULTURAL

18.12.11

Falar de si


Hélio Consolaro*

O mais elementar dos conselhos de autoajuda diz que elogio em boca própria é vitupério, vira contra si mesmo.  Dale Carnegie, no livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, afirma que nem precisa ser autoelogio, falar de si já é uma atitude inconveniente. Quem tem tal comportamento é chamado de desmancha roda de conversa. 

Na verdade, devemos sempre falar de nós mesmos, mas usando certo disfarce, porque tudo em nós revela o que somos. O jeito de vestir, de falar, de andar. É como recomendar para não usar primeira pessoa (eu/nós) numa dissertação, porque nela predomina a função referencial da linguagem. Enfim, uma dissimulação, pois todos sabem que o texto representa a opinião de seu autor.

Numa roda de conversa, estimule as pessoas a falarem de se si mesmas, dando-lhes importância. Se elas forem inteligentes, não cairão na sua provocação, e falarão de você. Para vender alguma coisa, ser simpático, estimule o outro a falar de si. Elas se sentirão valorizadas e você, caro leitor, vai ganhar pontos. 

O grande líder tem seus arautos na sociedade, que vira o rumo da prosa numa boa conversa. Eles fazem isso sem cobrar nada, por confiança mesmo. Se alguém estava querendo falar mal de você na roda, desiste logo. O líder tem liderança em casa, na roda de amigos, por toda a comunidade. Às vezes, tudo lhe é nato, outras, resultado de educação familiar ou vigilância de si mesmo. Não avança o sinal vermelho.   

Se é forçado numa entrevista a falar de si para conseguir o emprego, diga a verdade de forma indireta. “Eu me esforço para ser uma pessoa receptiva...”. Nunca diga “eu sou isso” ou “eu sou aquilo”, “faço e arrebento”.

As eleições municipais se avizinham, e os candidatos vendem a sua própria imagem, construídas ao logo de sua trajetória. E os discursos “Vote em mim, não vote nele, porque sou o melhor de todos” aparecerão com certeza. Quem faz isso é um sério candidato à derrota. Ponha os assessores, os parentes, a família, etc. para falarem bem de você. Limite-se a explanar suas metas, como vai trabalhar, sem achincalhar o adversário. 

Isso é bem diferente em pedir o voto. Candidato que não pede o voto não cumpre sua função, afinal, ele está em campanha eleitoral para quê? Há gente, até amigo do candidato, que não vota nele porque esteve com o eleitor e não pediu o seu voto, foi tímido (timidez interpretada como soberba), principalmente nas relações primárias, corpo a corpo.

Numa campanha midiática, os marqueteiros mudam a imagem de um candidato, mas ele precisa ter algumas virtudes. O PT, por exemplo, passou anos fazendo campanha errada, mas tinha a consideração até dos adversários. Duda Mendonça em 2002 deu uma imagem mais light para essa virtude, mudou o invólucro, transformando o Lula em “Lulinha paz e amor”.  As duras palavras foram transformadas em eufemismo.

Então, caro leitor, sei que você não é candidato a nada, mas precisa namorar, vender alguma coisa, fazer sua loja crescer, ser um bom profissional. Então, procure sempre ajudar os outros, pare de pensar só em si. O egocentrismo é autodestrutivo.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP. E-mail: conselio@gmail.com


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