AGENDA CULTURAL

19.4.12

Banho de cachoeira


Hélio Consolaro*

Confesso que não ia abordar o assunto Demóstenes Torres (DEM) no blog, senador que é acusado de envolvimento com Carlinhos Cachoeira. O parlamentar é membro do Ministério Público do Estado de Goiás.  
http://www.humorpolitico.com.br
Aliás, Cachoeira se tornou ultimamente substantivo masculino e nome próprio na mídia. Há muita gente que foi tomar banho de cachoeira e se danou. Nos domínios de Xangô e Ogum tal procedimento tira tudo o que há de mal do corpo. Tomar banho de cachoeira em Goiás é nadar em dinheiro.

Nem os nomes gregos, parnasianos, estão ilesos em nosso parlamento. Demóstenes (em 384 a.C. — 322 a.C.) foi um excelente orador e político de Atenas.

Temos lá também o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB), delegado licenciado da Polícia Federal, que se projetou no combate à corrupção, Operação Satiagraha.  Protógenes na Grécia antiga foi um pintor.

Tenho uma amiga em Araçatuba que ligava a TV Senado só para ouvir Demóstenes Torres e suspirava diante de sua oratória: “Como seria diferente se todos fossem iguais ao senador Demóstenes Torres”. Parece que o vaticínio se concretizou. 

Este croniqueiro não ia falar nada de Demóstenes Torres, como disse no início, até que o caso virou assunto de família. Recebi um telefonema de meu filho, Meninão, que hoje mora em Goiás, e trabalha na UFG.

- Filho, seu estado está em evidência na televisão, hein!
E ele respondeu:

- É pai, o pior é que votei nesse cara.

Houve um silêncio telefônico entre nós. E ele continuou:

- O cara aqui tinha moral, tido como sério, defensor da ética.

Quase disse a ele que em todos os partidos há gente boa, mas em alguns, isso é uma raridade, mas me calei para não fazer proselitismo com o próprio filho. E desligamos.

Depois da conversa, me lembrei de um livro, que não li: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. E fiz uma paródia com a minha situação: “Pai de esquerda,  filho nem tanto, neto ...” (nem  quero pensar).

Não me decepciono com mais nada, não prego o niilismo, apenas sou cético e considero que o ser humano é uma caca. A vida de ninguém aguenta uma CPI, não somos este santo que tanto estimamos.

Defendo o voto e a democracia, apesar de tudo. É a melhor forma de nos organizar. Votar é assumir riscos, não votar é ser Pôncio Pilatos, lavar as mãos. Como se diz na linguagem chula: “tirar o seu da reta”. Votar nulo ou em branco é não acreditar na democracia.  

Meninão, meu filho, é professor universitário, gente bem informada, facilmente enganada pela aparência, como toda a classe média. Preferiu como candidato a pose, a voz bem empostada, um nome da antiguidade. E votou no cara. Quebrou a cara. Na próxima eleição, vai mudar os critérios.

Apenas estou registrando o fato com um pouco de picardia para divertir leitores e navegar bem neste vale de lágrimas. Levar a vida a sério é pra gente besta.     

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal da Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

literaturagara disse...

Prezado Hélio: para o meu irmão mais velho aqui de Recife, também está sendo uma grande decepção.