AGENDA CULTURAL

22.6.12

O puritanismo de Erundina


 Hélio Consolaro*
Publicado no jornal O LIBERAL, de 23/6/2012

Sempre defendi a Erundina dos ataques preconceituosos, principalmente quando era prefeita de São Paulo, e continuo nessa cruzada, mas ela pisou na bola ao abandonar a sua candidatura de vice-prefeita de Fernando Haddad em São Paulo, mas continuo na sua defesa como nordestina, mulher, etc.

Erundina pertence ao segmento da sociedade que transfere a ética pessoal para a política, quando esta tem uma dinâmica própria. Ao descobrir Mahatma Gandhi, li um de seus princípios: “Não podemos ser escravos da coerência” e vibrei. E Raul Seixas completou com a música “Metamorfose ambulante”. A realidade muda.

Durante a campanha eleitoral, quem ia elogiar quem? Maluf falaria bem de Haddad e de Erundina, não era a ex-prefeita que precisava elogiar o ex-governador paulista. Era um ex-partidário da ditadura (meio rebelde) que ia apoiar as forças democráticas, vencedoras na política brasileira. A hegemonia estava com as forças progressistas. Então, por que temer?

Em política, não pode existir a birra infantil: com ele não brinco mais, por isso durante os embates políticos se faz necessária a moderação, porque o futuro é uma incógnita. A atitude de Erundina revela como eram os petistas da década de 80 e 90, não faziam alianças, achavam que iam governar sozinhos, sem costurar governabilidade com toda a sociedade.      

Exemplo disso ocorreu em 1996, quando o PT de Araçatuba não participou das eleições, porque o diretório municipal foi impedido pelo estadual de fazer aliança com o PTB, do Arlindo Ferreira Batista.

Erundina se esqueceu de que Lula só chegou à presidência quando costurou alianças significativas. As coligações são feitas com diferentes, a convergência se constrói com proposta política e plano de governo. Aliás, ela foi vítima desse puritanismo petista quando se rebelou para ser ministra do então presidente Itamar Franco.   

Embora não gostemos, Paulo Maluf ainda é uma carta no baralho, meio surrada, cheia de marcas, mas continua no jogo. Fernando Haddad não é uma figura conhecida, pertence à intelectualidade paulista, não possui raízes populares como Erundina e Maluf.  Lula conseguiu aglutinar dois ex-prefeitos. Além disso, Haddad tem origem árabe e o PT sempre apoiou a causa palestina.

Certamente, o tucano assentou no quintal da ex-prefeita, cobrou-lhe coerência e ela visualizou manchetes negativas da revista Veja e o jornal Estadão, não foi tirar a foto significativa para a campanha eleitoral, mas o seu partido continua apoiando Fernando Haddad.

Infelizmente, a impoluta Erundina só pensou em si, não quis ajudar na construção da vitória, embora o PSB continue na coligação. Não tem nada, não! A vitória ficou apenas mais trabalhosa, mas virá.       

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

2 comentários:

O Poeta das Multidões disse...

Na politica não existe mais idealismo e sim interesses pessoais. O fisiologismo tornou se patológico. Infelizmente. Heitor Gomes.

Hospitality & Tourism disse...

Trata-se de uma posição de conveniência, senhor Consolaro. Lula tornou-se uma piada de si mesmo. Um arrogante. A sanha com que atacam o poder pelo poder é patética. Qual o plano para o Brasil para os próximos 20 anos?