AGENDA CULTURAL

6.10.12

"Sexo não é mais o que era"



Hélio Consolaro*
http://noticias.r7.com 
Aquilo que era para ser tão normal virou polêmica. Os velhinhos da Academia Brasileira de Letras, querendo ser modernos e arejados, promoveram um ciclo de palestra que virou escândalo, motivo de comentários desairosos, etc. Aquilo que era uma medida administrativa local ganhou dimensão nacional. Esse poder da mídia é fantástico, mas também escabroso.  

Ocorreu no dia 12 de setembro de 2012 na sede da ABL num ciclo de palestra sobre o título "O sexo não é mais o que era". Quando chegou a vez de Jorge Coli, professor da Unicamp, falou a palavra “boceta” e expôs em eslaides a imagem do quadro de Coubert “Origem do Mundo” (uma mulher nua, de pernas abertas).

A palestra que era transmitida ao vivo pelo site da ABL foi retirada do ar, embora tenha continuado no auditório. A atitude foi tomada por um funcionário, e ela teve que ser sustentada depois pela presidenta Ana Maria Machado, que estava na Espanha, e pelos acadêmicos.

O professor convidado, não sei se recebia cachê ou não para proferir a palestra, resolveu pôr a boca no mundo, como forma de luta para preservar nossa liberdade de expressão. Então, aquela entidade de 40 supostos sábios se viu em maus lençóis.

Na verdade, tudo isso ocorreu porque nós fomos educados numa sociedade judaico-cristã em que o natural em nós precisa ser abafado em nome do cultural. Dentre esse natural, está o sexo. Loteamos a nossa existência entre Deus e o diabo, e este ficou com nosso corpo, enquanto Aquele herdou o espírito. Então, a natureza em nós é condenada, diabólica. Na verdade, o diabo que mora em nós são nossos instintos.

Com isso, tudo que é sexo vira perversão, proibido, uma gostosura. Os seres que se posam de assexuados em nossa sociedade pagam um preço caro em sua existência. Assim, padres e freiras são celibatários, certas denominações do evangelismo fazem de seus seguidores pessoas contidas, tirando-lhes a naturalidade. Assim, nossos problemas se encerram no túmulo, com algumas repercussões após morte.

Na verdade, se o funcionário da ABL não fosse tão pudico, zeloso da moral e dos bons costumes, provavelmente ninguém teria sabido o que houve naquele 12 de setembro, ficaria nos comentários intramuros. O professor Jorge Coli continuaria anônimo, conhecido apenas nos meios universitários.

Assim descobrimos o quadro de Gustave Courbet, (tão natural) entrando na internet para vê-lo, tivemos estímulos eróticos, pecamos por palavras e obras, e continuamos a vida de pecadores e de pregadores de uma santidade inexistente. Enfim, enriquecemos nosso cotidiano. E já estamos em outubro, nos portais de 2013.  

Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura – Araçatuba-SP       

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