Hélio
Consolaro*
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Aquilo
que era para ser tão normal virou polêmica. Os velhinhos da Academia Brasileira
de Letras, querendo ser modernos e arejados, promoveram um ciclo de palestra
que virou escândalo, motivo de comentários desairosos, etc. Aquilo que era uma
medida administrativa local ganhou dimensão nacional. Esse poder da mídia é
fantástico, mas também escabroso.
Ocorreu
no dia 12 de setembro de 2012 na sede da ABL num ciclo de palestra sobre o
título "O sexo não é mais o que era". Quando chegou a vez de Jorge
Coli, professor da Unicamp, falou a palavra “boceta” e expôs em eslaides a
imagem do quadro de Coubert “Origem do Mundo” (uma mulher nua, de pernas
abertas).
A
palestra que era transmitida ao vivo pelo site da ABL foi retirada do ar,
embora tenha continuado no auditório. A atitude foi tomada por um funcionário,
e ela teve que ser sustentada depois pela presidenta Ana Maria Machado, que
estava na Espanha, e pelos acadêmicos.
O
professor convidado, não sei se recebia cachê ou não para proferir a palestra,
resolveu pôr a boca no mundo, como forma de luta para preservar nossa liberdade
de expressão. Então, aquela entidade de 40 supostos sábios se viu em maus
lençóis.
Na
verdade, tudo isso ocorreu porque nós fomos educados numa sociedade
judaico-cristã em que o natural em nós precisa ser abafado em nome do cultural.
Dentre esse natural, está o sexo. Loteamos a nossa existência entre Deus e o
diabo, e este ficou com nosso corpo, enquanto Aquele herdou o espírito. Então,
a natureza em nós é condenada, diabólica. Na verdade, o diabo que mora em nós
são nossos instintos.
Com
isso, tudo que é sexo vira perversão, proibido, uma gostosura. Os seres que se
posam de assexuados em nossa sociedade pagam um preço caro em sua existência.
Assim, padres e freiras são celibatários, certas denominações do evangelismo
fazem de seus seguidores pessoas contidas, tirando-lhes a naturalidade. Assim,
nossos problemas se encerram no túmulo, com algumas repercussões após morte.
Na
verdade, se o funcionário da ABL não fosse tão pudico, zeloso da moral e dos
bons costumes, provavelmente ninguém teria sabido o que houve naquele 12 de
setembro, ficaria nos comentários intramuros. O professor Jorge Coli
continuaria anônimo, conhecido apenas nos meios universitários.
Assim
descobrimos o quadro de Gustave Courbet, (tão natural) entrando na internet
para vê-lo, tivemos estímulos eróticos, pecamos por palavras e obras, e
continuamos a vida de pecadores e de pregadores de uma santidade inexistente.
Enfim, enriquecemos nosso cotidiano. E já estamos em outubro, nos portais de
2013.
Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal
de Cultura – Araçatuba-SP
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