AGENDA CULTURAL

11.12.12

“A universidade ensina de costas para o Brasil”, diz Ariano Suassuna

Em aula-espetáculo apresentada em BH, escritor critica desvalorização da cultura nacional - Revista Cult

Helder Ferreira

“A universidade brasileira ensina de costas para o Brasil e seu povo”, declarou Ariano Suassuna, 85, na última terça-feira (4/12), às mais de 1300 pessoas que lotavam a plateia do Teatro SESC Palladium, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O escritor, que disse ter se incumbido da missão de “defender o povo brasileiro e sua cultura”, apresentou a aula-espetáculo “Raízes Populares da Cultura Brasileira“, que versa sobre as matrizes indígena, europeia e africana que compõem a identidade nacional. A palestra faz parte do projeto Minas-Pernambuco, que tem apoio do programa cultural “Sempre um Papo” e da Fiat.

O autor de O Auto da Compadecida acredita que, atualmente, a presença da cultura nacional nos currículos educacionais seja incipiente. Como exemplo, citou um episódio em que apenas um estudante, presente em uma de suas palestras em uma universidade na cidade de São Paulo, já havia ouvido falar do filósofo Matias Aires. “Eu perguntei se ele tinha visto em aula e ele respondeu que não, que apenas conhecia porque morava na rua que levava o nome do filósofo. Todos eles sabiam quem fora Kant – mais importante filósofo alemão do século 18 -, mas ninguém conhecia o mais importante filósofo brasileiro do mesmo século”, lamentou.

Ex-secretário de Cultura de Pernambuco e atual secretário de assessoria ao governador Eduardo Campos, Suassuna disse estar preocupado com a qualidade da arte oferecida ao povo brasileiro e, particularmente, à juventude. “É como aquela velha história de que cachorro gosta só de osso. Ofereça um filé ao cão para ver o que ele irá preferir”, metaforizou a respeito da cultura popular contemporânea. “Ao povo, não tem se dado o direito de entrar em contato com o filé”.

“Existe uma diferença entre o sucesso e a notoriedade. O sucesso é fácil e efêmero. Ninguém vai saber quem foi Lady Gaga daqui a dois séculos, mas e o Antonio Madureira?”, questionou, após exibir um vídeo de um espetáculo de dança que dirigiu, sonorizado por composições do músico do Movimento Armorial, que busca a criação de uma arte erudita por meio da cultura nordestina. “Notem que não tem guitarra no instrumental. No que eu faço, não entra esse instrumento. Faço questão”.

Suassuna ainda surpreendeu o público dançando ao som de um paso doble, estilo musical de origem espanhola, imitando um toureiro. Seu intuito era comprovar a diferenciação entre as produções artísticas em diversos países, contrariando a tese de que todas seriam apenas um episódio da cultura ocidental. “Vocês reconheceram que a música era espanhola, portanto, a cultura espanhola existe e tem suas características específicas. 

Não é arte na Espanha, mas arte espanhola. O mesmo vale para a cultura brasileira”, afirmou.

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