Hélio Consolaro*
O livro “Filhos
da Preta”, de Luiz Mozzambani Neto, é um romance , cuja publicação foi
subsidiada com verba pública, via Proac – Programa de Ação Cultural do Governo
do Estado de São Paulo, do Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça e a Usina
Colorado. Está sendo vendida via internet pelo próprio autor, que também editou
o livro, pelo custo de R$ 20,00, com 218 páginas. Basta apenas procurar no Toda
Oferta, do site UOL.
O tempo
histórico do livro é o pós escravidão com todos os vícios dela, apesar de ela
ter sido legalmente extinta na região da araraquarense. O tema transversal da
narrativa é o preconceito racial, mais precisamente o de cor.
Não fizemos
nenhum levantamento minucioso da narrativa para verificar alguma
inverossimilhança, mas há grande chance de o autor ter cometido algumas, porque
a realidade narrativa é complexa e permite isso. Mesmo encontrando algumas, se
for o caso, não será isso que vai deixar o livro com menor valor.
Os filhos da
Preta são gêmeos, mas na verdade, um só. Enquanto o Preto dorme, o Branco tem
sua vida social. Só o espírito dorme, porque o corpo é o mesmo. Nesse jogo,
Mozzambani deve ter feito anotações, montado esquemas para não se perder.
Na década de
80, eu recomendava a leitura infanto-juvenil “E agora?”, de Odette Barros Mott,
para o ensino fundamental. Camila é uma garota pobre que é filha de pai branco
e mãe negra. Ela tem vergonha da mãe e das duas irmãs, por serem negras, já que
ela tem a aparência mais parecida com seu pai.
Luiz Mozzambani Neto |
Mozzambani optou por trabalhar
com o realismo fantástico, meio macunaímico, como forma de mostrar ao leitor
que o preto e branco moram dentro de cada brasileiro.
Ao ler “Filhos
da Preta”, senti saudade da leitura que fiz há algum tempo do livro “A cabana
do Pai Tomás”, de Harriet Becher Stowe, da literatura norte-americana. A
perseguição se faz presente nas duas obras.
Luiz
Mozzambani Neto se diz um escritor caipira (interior paulista), o cenário é a
região onde nasceu, foi criado e mora, mas nem por isso o regionalismo pôs a
perdeu a sua universalidade, em que toda a humanidade se encontra nele. Ele
seguiu à risca o conselho Tolstoi: "Se queres ser universal, começa por
pintar a tua aldeia."
Li o livro
na semana mais preguiçosa do ano de 2012, entre Natal e ano-novo, valeu a pena por
vários motivos: Mozzambani é um escritor caipira e precisamos incentivar nossos
escritores locais; por sua ousadia, tão novo (47 anos) com vários livros
publicados e por ser um militante da cultura brasileira, mais especificamente,
da cultura paulista. Parabéns à Secretaria Estadual de Cultura por custear a sua
publicação.
“Filhos da
Preta” chega a ser um livro de aventura, que em certos momentos segura o leitor
pelo focinho, só não pode ser recomendável
em escolas por causas de suas cenas eróticas no relacionamento de Preto e
Branco com a mesma mulher: Rafaela. Se transformado em filme, se tornará campeão
de bilheteria.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista e escritor. Mora em Araçatuba-SP
Um comentário:
Com certeza deve ser um bom livro e muito pertinente, porque tudo que denuncie qualquer tipo de preconceito ou racismo é bem vindo. Não cabe na cabeça de ninguém que um dia a sociedade humana teve a coragem de fazer o que fizeram com os negros. E o pior é que tudo apoiado e legalizado pelas autoridades e entidades religiosas da época. Quando vejo a quantidade de Afros descendentes lotando as entidades Católicas Romanas, sinto que ainda falta muito para que o negro se conscientize de sua história,pois até num passado próximo a Igreja preconizava que os negros não tinham almas. Isso não é história é fato. Qualquer tipo de preconceito é nojento e criminoso. Amém!
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