Hélio
Consolaro*
Toda
vez que há uma concentração da cultura Hip-Hop na praça João Pessoa, em
Araçatuba, realizada com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, saio de lá cheio
de interrogações.
Por
exemplo, que força move aquela juventude, para que três mil pessoas se juntem
na praça, sem nenhum astro ou estrela midiática. Usando um programa transmitido
pela Rádio Cultura FM 95,5, num domingo à tarde, comandado pelo DJ William
Sancler e pelas redes sociais.
Na
hora em que gritam no palco pela galera do Porto Real, uma multidão responde,
dizendo “tamo junto”. Assim, vão fazendo com outros bairros de Araçatuba.
Que
força tem a praça João Pessoa, pois quando me procuram para realizar o evento
Culturafro, sugiro outras praças, mas eles insistem: “Queremos a praça João
Pessoa”.
Quem
indaga, acaba encontrando algumas respostas, nem sempre as mais consistentes. A
cultura Hip-Hop surgiu nos Estados Unidos como um movimento contra as drogas.
Não vou arriscar a afirmar que todos os manos e minas presentes na praça João
Pessoa no domingo, 14 de abril, das 16 às 21h30, estejam imunes às drogas. Se
há, é um percentual pequeno.
Lá
vejo garotos e garotas que trabalham durante a semana, estudam em escolas
públicas ou faculdades particulares. Gente do trampo. As motos se multiplicam
em torno da praça. Já vejo casais de pais deixando os filhos e buscando-os
depois com seus carros, comprados, graças à política econômica que quer
construir um Brasil sem miséria.
Há
também muitos casais jovens com seus filhos no colo. Não são vagabundos, desocupados
e nem desordeiros como, às vezes, teimam em classificá-los algum setor de nossa
sociedade. São pessoas que não querem ser barradas no baile, e a cultura Hip-Hop
é a inclusão.
Querem
a praça João Pessoa porque ela fica no centro da cidade, a convergência se
torna fácil, mas também porque lá ocorre os shows de MPB, Bossa Nova, porque
ela simboliza um local onde a cultura erudita acontece. Seria como uma invasão
de espaço, autoafirmação: “Estamos aqui, também somos gente”.
Juntam-se
como formigueiro, enxame, porque são tribo e a praça é a grande taba. “Estamos
aqui”. O rap, que é a parte musical da cultura Hip-Hop, é um gênero que
representa o grito, como é o rock para os jovens de classe média. Apesar do
espontaneísmo, reúnem para ensaiar, sem aulas regulares, porque acreditam
naquilo, é movimento. Não cobram cachê. É o grito da periferia.
O
nome do evento é “Culturafro”. Traz a raiz de África. Ninguém questiona, porque
sabem que a cultura Hip-Hop é afro-descendente, apesar de ter a presença
significativa de brancos. Nem totalmente brancos, nem totalmente negros,
morenos, miscigenados.
Reivindicaram
a praça de esqueite. E o prefeito Cido Sério está construindo bem ao lado da
avenida 2 de Dezembro, próxima ao zoológico municipal. DJ Sancler foi candidato
a vereador pelo PT em 2012, não se elegeu, embora tenha tido votação
significativa por conta do movimento, porque a cultura Hip-Hop é efêmera,
plural. É uma manifestação política por excelência na sua forma, mas não tem
discurso político-ideológico. A palavra de ordem é “Tamo junto”.
Sinto-me
orgulhoso em participar de um governo que dá voz a todos. Como secretário,
sinto-me gratificado pela política de inclusão adotada pela Secretaria
Municipal de Cultura, quando chamei pela primeira vez o movimento para
conversar.
Quem
sabe o próximo passo não será inserir um violinista para tocar rapidamente a
manos e minas e promover uma intervenção de rap num conserto erudito. Se isso
for possível, avançaremos significativamente na construção da cultura de paz. Tudo
na praça João Pessoa.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de
Araçatuba.
Araçatuba já faz isso desde 2009, na administração do prefeito Cido Sério - PT
O que é cultura Hip-Hop?
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Secretário de Cultura de SP quer descriminalizar Hip Hop na
cidade
O secretário municipal de Cultura de São Paulo, Juca
Ferreira, participou de um encontro com rappers, produtores culturais e
professores para discutir políticas públicas para a cultura.
O que é cultura Hip-Hop?
Parte 1
Parte 2
Parte 3
3 comentários:
Ótimo texto Consa!
Obs 1: O programa do DJ Sancler na Cultura Fm não vai ao ar sábados e sim aos domingos a tarde.
Obs 2: O movimento não é divulgado "apenas" na rádio mas também pelas redes sociais da internet e via "boca a boca", pelos participantes e espectadores.
Obs 3: Mesmo o movimento tendo "cunho político" devemos "dar o braço a torcer" porque é executado a baixo custo e para uma minoria que tem dificuldade a cultura como por exemplo os "Violinistas" que o Sr. se referiu em uma apresentação conjunta...
Parabéns Sancler pela iniciativa e parabéns professor Hélio, pelo texto!
Fiz as correções possíveis. Obrigado.
Eu gosto muito da praça João Pessoa. Pudesse decidir e os nossos shows da seresta seriam todos lá. Já disseram que o céu é do condor e a praça é do povo...e la a cevezinha tá na mão.
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