AGENDA CULTURAL

22.6.13

Na rua! Primeiras observações

Marcos Francisco Alves*

Com a vitória do movimento, obtendo a anulação do aumento, mostrou-se a força das mobilizações quando apoiada numa reivindicação justa e possível – tanto assim que foi realizada. A necessidade de se ocupar as ruas com mobilizando a população, sensibilizam as pessoas, fazem com que se fale para toda a sociedade e pressionam governos e tensionam setores comprometidos com as discriminações sociais.

Outro fator, não claro no início, pela recusa de se dialogar com o movimento, mas que foram ocorrendo ao longo dele, foi a prevalência dos interesses privados sobre os públicos. Afinal, quem banca os transportes públicos e quem lucra com ele? Em outras palavras, quem deve financiar o transporte público? Ou, para ampliar, a educação, a saúde, a pesquisa etc ?

Mas o é fato que as manifestações inéditas do MPL pegaram todos de surpresa . Evidentemente, agora que se conseguiu a proposta inicial do movimento, acontecerão as análises. Algumas apressadas tentando dar conta em curto prazo, mas com uma visão reducionista dos acontecimentos,. Outras, mais elaboradas, demorarão mais tempo para ocorrer. Nesse caminho podemos interferir com algumas colocações.

Não há dúvidas: um dos aspectos essenciais das manifestações foi trazer para a cena política, mesmo que não queiram admitir isso, setores da juventude, não contemplados por políticas governamentais e que, até aqui, não tinham encontrado suas formas especificas de se manifestar politicamente. E mais, não houve uma linha que unificasse todos os interesses dispersos nelas. Sendo assim, em cada local elas assumiram características própria, prevalecendo na maioria delas a formação ideológica individual dos participantes.

A esquerda, dormindo placidamente, confiante nas suas militâncias que adensam as associações, sindicatos,entidades etc, paralisadas por promessa não cumpridas por um governo pela qual lutou há décadas e pela qual se perdoa tudo, acumulando forças para o avanço, foram atropeladas pelas manifestações. 

No primeiro momento, incrédulos hesitou em participar. Avaliando que era muita fumaça para pouco fogo. Mas o volume de participantes aumentou, principalmente por parcelas da classe média , média para alta, fermentada por diferentes reivindicações, represadas por diferentes motivos e o movimento original tornou-se um tudo para todos e ela passou da inércia inicial para a tentativa.

A direita, no primeiro momento, fez o que sempre faz nesses momentos de crise social: baixar o porrete. Editoriais de jornais escritos e dos canais de televisão, proclamavam o caos e a necessidade de aumentar o rigor da repressão. Afinal, vinagre é material de alta periculosidade! 

No segundo momento, recuaram: viram uma brecha para atacar o governo federal e passaram a dedicar análises, justificando as manifestações, inclusive sugerindo locais para as manifestações etc. Seus repórteres e acólitos voltaram atrás em suas análise, se desculparam e viraram divulgadores do movimento mesmo sendo rechaçados por algumas lideranças do MLP ou expulsos das manifestações. Entretanto, continuam a evidenciar o caos, jogando lenha na fritura eleitoral de 2014. E, elementos das suas organizações partidárias, participam das manifestações.

Em relação às pessoas que ocupam as ruas: elas não são ingênuas. Basta a leitura dos seus cartazes e, em certos momentos, da posição de classe dessas pessoas. Também não são despolitizadas, pelo contrário, carregam toda a carga ideológica das mídias hegemônicas, mesmo que neguem isso e com isso, partidarizam um movimento que juram ser apartidário! 

Em muitos lugares, por conta dessa carga e da posição de classe, tiveram comportamento de direita: os ataques sempre forma contra o governo federal ou prefeitos... de esquerda! Pior, uma manifestação que se diz espontânea tem organizadores que impedem determinadas participações mas ocupam os microfones para falar mal dos governantes de... esquerda. Em algumas delas , por exemplo, no ato chamado para protestar contra a violência policial tucana, não houve uma fala contra ela! Mas houve contra os governos de esquerda! 

Nesses momentos fica injustificável a defesa de um pretenso “apoliticismo” e o impedimento de que partidos e movimentos de esquerda portassem suas bandeiras, camisetas etc . Que o movimento sofreu tentativas de manipulação de dentro e por fora, ficou evidente. Setores da extrema esquerda, tentando dar “ares de levantamento insurrecional” contra o Estado; infiltração de agentes provocadores e organizados, que agiram com extrema violência e vandalismos, representantes dos setores da direta: papel da mídia, ora criticando , pedindo mais rigor na truculência, ora exaltando a civilidade das manifestações quando isso fosse de seu interesse; incompreensão das lideranças e dos manifestantes quanto ao papel das outras organizações populares na condução da luta, prevalecendo uma visão hegemônica e infantil dos fatos etc

Nega-se com isso a importância dos fatos? Em absoluto! Há tempos, parcelas importantes da população estava anestesiada. No meio das manifestações há diversas tribos, galeras etc que estão indo às ruas pela falta de aprofundamento das políticas públicas que, se por um lado melhoraram as condições de vida da população e da Nação, não conseguem apontar o rumo da superação do atual modelo econômico que privilegia as elites financeiras, grandes fazendeiros e banqueiros, enfim a burguesia brasileira. 

Logo não é surpresa para quem acompanha o processo histórico, ver a perplexidade dos governos em sua incapacidade de entender o potencial explosivo das condições de vida urbanas e, no caso, a ausência de políticas para a juventude.

O governo, fechado pelo círculo de ferros das elites, e respondendo apenas a ela, faltou ir ao povo, para apontar o que quer realmente fazer, mas é impedido pelas forças do atraso do Legislativo, Judiciário, das mídias etc. que ele próprio financia. Afinal, a principal emissora de TV do país, que recebe as maiores verbas publicitárias do governo federal , é a que mais o aperreia e incita o golpismo.

Acomodou-se, mas teve uma nova possibilidade: retomar a iniciativa e recolocar as propostas populares que há década defendeu , confrontar a direitização das manifestações provocadas pelas insanidade das mídias e retomar a caminhada para o aprofundamento das transformações sociais e econômicas, enfim, ir às massas. Ocupar as mídias que fazem parte do PIG e desatar os nós: há culpados pela crise sim e a eles devemos dar nomes. Exigir transparência e articulação dos partidos que compõem a base do governo para evitar que projetos importantes para o desenvolvimento do país sejam atropelados por interesses sinistros. 

Entretanto, preferiu o silêncio e corre atrás de saídas temporárias para o impasse. Convenhamos, como muitos disseram, os R$0,20 pesam muito no bolso das camadas mais pobres e a sua supressão foi importante, mas é apenas isso que está sendo gestado nas entranhas da população?

Com o tempo as manifestações serão compreendidas. Uma está clara: a insurgência de uma modalidade fascista nos eventos que se declaram  "apolíticos e apartidários”. A direita se interessará apenas nas suas estreitas preocupações eleitorais e nos seus esforços desesperados para chegar ao segundo turno nas eleições presidenciais.Ou mesmo, engatilhar um golpe em caso de outra derrota eleitoral. Setores extremistas buscarão interpretações exorbitantes de que estariam dadas condições de alternativas violentas, o que se esvaziará rapidamente.


O mais importante são as lições que o próprio movimento e a esquerda – partidos, movimentos populares, governos – tirem da experiência. Nenhuma avaliação apressada dará conta da dimensão e desdobramento da manifestações. Uma talvez seja a introdução da temática do significado político para uma parcela muito grande da juventude que encontra excluída dos mecanismos de participação social existentes, presa às redes virtuais que, em sua maioria, são dominadas por demandas individualistas, conservadoras e regressivas . 

A atitude correta é reconhecer o abandono dessa parcela e atuar junto a ela, para ajudar a que tenha uma consciência mais clara dos seus objetivos, das suas limitações, das manipulações de que foi usada pela direita e dos problemas que suscitou e como levar adiante a discussão dos seu significado e melhores formas de enfrentar pela ampliação das melhorias sociais, econômicas, culturais etc as quais lhe são subtraídas.

*Marcos Francisco Alves é professor e militante do PCdoB

Artigo copiado da página do Facebook do prof. Marcos por este blogueiro. 

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