Marcos Francisco Alves*
Com a vitória do movimento, obtendo a anulação do aumento,
mostrou-se a força das mobilizações quando apoiada numa reivindicação justa e
possível – tanto assim que foi realizada. A necessidade de se ocupar as ruas
com mobilizando a população, sensibilizam as pessoas, fazem com que se fale para
toda a sociedade e pressionam governos e tensionam setores comprometidos com as
discriminações sociais.
Outro fator, não claro no início, pela recusa de se dialogar
com o movimento, mas que foram ocorrendo ao longo dele, foi a prevalência dos
interesses privados sobre os públicos. Afinal, quem banca os transportes
públicos e quem lucra com ele? Em outras palavras, quem deve financiar o
transporte público? Ou, para ampliar, a educação, a saúde, a pesquisa etc ?
Mas o é fato que as manifestações inéditas do MPL pegaram
todos de surpresa . Evidentemente, agora que se conseguiu a proposta inicial do
movimento, acontecerão as análises. Algumas apressadas tentando dar conta em
curto prazo, mas com uma visão reducionista dos acontecimentos,. Outras, mais
elaboradas, demorarão mais tempo para ocorrer. Nesse caminho podemos interferir
com algumas colocações.
Não há dúvidas: um dos aspectos essenciais das
manifestações foi trazer para a cena política, mesmo que não queiram admitir
isso, setores da juventude, não contemplados por políticas governamentais e
que, até aqui, não tinham encontrado suas formas especificas de se manifestar
politicamente. E mais, não houve uma linha que unificasse todos os interesses
dispersos nelas. Sendo assim, em cada local elas assumiram características
própria, prevalecendo na maioria delas a formação ideológica individual dos
participantes.
A esquerda, dormindo placidamente, confiante nas suas
militâncias que adensam as associações, sindicatos,entidades etc, paralisadas
por promessa não cumpridas por um governo pela qual lutou há décadas e pela
qual se perdoa tudo, acumulando forças para o avanço, foram atropeladas pelas
manifestações.
No primeiro momento, incrédulos hesitou em participar. Avaliando
que era muita fumaça para pouco fogo. Mas o volume de participantes aumentou,
principalmente por parcelas da classe média , média para alta, fermentada por
diferentes reivindicações, represadas por diferentes motivos e o movimento
original tornou-se um tudo para todos e ela passou da inércia inicial para a
tentativa.
A direita, no primeiro momento, fez o que sempre faz nesses
momentos de crise social: baixar o porrete. Editoriais de jornais escritos e
dos canais de televisão, proclamavam o caos e a necessidade de aumentar o rigor
da repressão. Afinal, vinagre é material de alta periculosidade!
No segundo
momento, recuaram: viram uma brecha para atacar o governo federal e passaram a
dedicar análises, justificando as manifestações, inclusive sugerindo locais para
as manifestações etc. Seus repórteres e acólitos voltaram atrás em suas
análise, se desculparam e viraram divulgadores do movimento mesmo sendo
rechaçados por algumas lideranças do MLP ou expulsos das manifestações.
Entretanto, continuam a evidenciar o caos, jogando lenha na fritura eleitoral
de 2014. E, elementos das suas organizações partidárias, participam das
manifestações.
Em relação às pessoas que ocupam as ruas: elas não são
ingênuas. Basta a leitura dos seus cartazes e, em certos momentos, da posição
de classe dessas pessoas. Também não são despolitizadas, pelo contrário,
carregam toda a carga ideológica das mídias hegemônicas, mesmo que neguem isso
e com isso, partidarizam um movimento que juram ser apartidário!
Em muitos
lugares, por conta dessa carga e da posição de classe, tiveram comportamento de
direita: os ataques sempre forma contra o governo federal ou prefeitos... de
esquerda! Pior, uma manifestação que se diz espontânea tem organizadores que
impedem determinadas participações mas ocupam os microfones para falar mal dos
governantes de... esquerda. Em algumas delas , por exemplo, no ato chamado para
protestar contra a violência policial tucana, não houve uma fala contra ela!
Mas houve contra os governos de esquerda!
Nesses momentos fica injustificável a
defesa de um pretenso “apoliticismo” e o impedimento de que partidos e
movimentos de esquerda portassem suas bandeiras, camisetas etc . Que o
movimento sofreu tentativas de manipulação de dentro e por fora, ficou
evidente. Setores da extrema esquerda, tentando dar “ares de levantamento
insurrecional” contra o Estado; infiltração de agentes provocadores e
organizados, que agiram com extrema violência e vandalismos, representantes dos
setores da direta: papel da mídia, ora criticando , pedindo mais rigor na
truculência, ora exaltando a civilidade das manifestações quando isso fosse de
seu interesse; incompreensão das lideranças e dos manifestantes quanto ao papel
das outras organizações populares na condução da luta, prevalecendo uma visão
hegemônica e infantil dos fatos etc
Nega-se com isso a importância dos fatos? Em absoluto! Há
tempos, parcelas importantes da população estava anestesiada. No meio das
manifestações há diversas tribos, galeras etc que estão indo às ruas pela falta
de aprofundamento das políticas públicas que, se por um lado melhoraram as
condições de vida da população e da Nação, não conseguem apontar o rumo da
superação do atual modelo econômico que privilegia as elites financeiras,
grandes fazendeiros e banqueiros, enfim a burguesia brasileira.
Logo não é
surpresa para quem acompanha o processo histórico, ver a perplexidade dos
governos em sua incapacidade de entender o potencial explosivo das condições de
vida urbanas e, no caso, a ausência de políticas para a juventude.
O governo, fechado pelo círculo de ferros das elites, e
respondendo apenas a ela, faltou ir ao povo, para apontar o que quer
realmente fazer, mas é impedido pelas forças do atraso do Legislativo,
Judiciário, das mídias etc. que ele próprio financia. Afinal, a principal
emissora de TV do país, que recebe as maiores verbas publicitárias do governo
federal , é a que mais o aperreia e incita o golpismo.
Acomodou-se, mas teve uma nova possibilidade: retomar a
iniciativa e recolocar as propostas populares que há década defendeu ,
confrontar a direitização das manifestações provocadas pelas insanidade das
mídias e retomar a caminhada para o aprofundamento das transformações sociais e
econômicas, enfim, ir às massas. Ocupar as mídias que fazem parte do PIG e
desatar os nós: há culpados pela crise sim e a eles devemos dar nomes. Exigir
transparência e articulação dos partidos que compõem a base do governo para
evitar que projetos importantes para o desenvolvimento do país sejam
atropelados por interesses sinistros.
Entretanto, preferiu o silêncio e corre
atrás de saídas temporárias para o impasse. Convenhamos, como muitos disseram,
os R$0,20 pesam muito no bolso das camadas mais pobres e a sua supressão foi
importante, mas é apenas isso que está sendo gestado nas entranhas da
população?
Com o tempo as manifestações serão compreendidas. Uma está
clara: a insurgência de uma modalidade fascista nos eventos que se declaram "apolíticos e apartidários”. A direita se interessará apenas nas suas estreitas
preocupações eleitorais e nos seus esforços desesperados para chegar ao segundo
turno nas eleições presidenciais.Ou mesmo, engatilhar um golpe em caso de outra
derrota eleitoral. Setores extremistas buscarão interpretações exorbitantes de
que estariam dadas condições de alternativas violentas, o que se esvaziará rapidamente.
O mais importante são as lições que o próprio movimento e a
esquerda – partidos, movimentos populares, governos – tirem da experiência.
Nenhuma avaliação apressada dará conta da dimensão e desdobramento da
manifestações. Uma talvez seja a introdução da temática do significado político para uma parcela muito grande da juventude que encontra excluída dos mecanismos
de participação social existentes, presa às redes virtuais que, em sua maioria,
são dominadas por demandas individualistas, conservadoras e regressivas .
A
atitude correta é reconhecer o abandono dessa parcela e atuar junto a ela, para
ajudar a que tenha uma consciência mais clara dos seus objetivos, das suas
limitações, das manipulações de que foi usada pela direita e dos problemas que
suscitou e como levar adiante a discussão dos seu significado e melhores formas
de enfrentar pela ampliação das melhorias sociais, econômicas, culturais etc as quais lhe são subtraídas.
*Marcos Francisco Alves é professor e militante do PCdoB
Artigo copiado da página do Facebook do prof. Marcos por este blogueiro.
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