Consa com seu chapéu chinês, o guia espanhol Adriano e a Helena (Japa) |
Hélio Consolaro*
Fui visitar o primeiro mundo, aquilo que alguns
brasileiros enchem a boca para menosprezar o Brasil. Não encontrei o primeiro,
apenas o mundo, como é também por aqui.
Por lá, os caixas eletrônicos ainda engolem cartão.
Não se digita senha ao comprar com cartão de débito ou crédito, assina-se uma
notinha, como fazíamos por aqui há anos. Está certo que a Itália é um primeiro
mundo latino, mas está na Europa, serve mais de parâmetro para nós, porque
pertencemos à mesma civilização.
Os imigrantes clandestinos (mais negros, às vezes,
orientais) são os vendedores de bugigangas, vendem tudo segurando a mercadoria
nas mãos e nos braços. E quando o rapa chega, correm, largam a mercadoria,
porque é melhor perdê-la do que ser expulso do país.
O turismo na Itália se parece com a aglomeração de
gente da rua 25 de Março em São Paulo, é gente tropeçando em gente, e cada
grupo de turista se esforça para não se distanciar de seu guia, é um atropelo.
O idioma português não é muito considerado,
valoriza-se o espanhol e o inglês, pois nunca houve tantos brasileiros fazendo
turismo por lá como agora. Pelo menos dizem os italianos. Apesar de países tão
próximos, não encontramos turistas portugueses por lá.
Em 2011, fui a São Luís do Maranhão, comprei um
chapéu no mercado de artesanato. Cheguei em casa, estava escrito na etiqueta
interna: Made in China. Desta vez, comprei um chapéu na Praça São Marcos, de Veneza.
Ele tem uma fita com as cores da bandeira italiana, e tive a mesma decepção,
comigo, por cair no mesmo golpe, e ao chegar em casa, ver a etiqueta: Made in
China. Não se trata de globalização, mas de “chinesação” do planeta.
As catedrais se chamam “duomo” por lá. Duomo di Milano, por exemplo. Entrar na igreja, nada se cobra, mas sempre inventam algo
para cobrar, ver a cidade pelo mirante da torre, por exemplo. Afinal, as obras
de preservação estão em todos os lugares e custam...
Na catedral de São Marcos, Veneza, vi uma turista
oriental, jovem, ter sua mochila jogada longe pelo porteiro porque ela não
entendeu as orientações, que não podia entrar com aquilo no dorso. Ele fez
aquela violência sem pensar no que continha a mochila, se havia alguma coisa
frágil no seu interior. E disse em italiano que aquilo era para a turista ter
educação. Tive que segurar a Japa para que ela não avançasse sobre o porteiro.
Por essa atitude, nota-se que, para o italiano,
parece que o país faz um favor à humanidade ter aquele patrimônio histórico
para mostrar. Os italianos não são muito gentis com os visitantes. É o primeiro
mundo.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário Municipal de Cultura de Araçatuba-SP
3 comentários:
''Não se trata de globalização, mas de “chinesação” do planeta.'' triste constatação, rs, mas verdadeira! Adorei sua gentileza em colocar os links, pude viajar um pouquinho também. Consa a Japa é uma gata!! :)
Meu caro Hélio, viajar sempre vale a pena, por causa da saudade, esse sentimento mágico que a Macabéa de "A Hora da Estrela" de Clarice Lispector potencializou ao extremo ao dizer "eu vou ter tanta saudade de mim quando eu morrer.". Demais, a música "Janela para o mundo" de Milton Nascimento já há anos nos revelou o segredo que não é segredo:
"De janela, o mundo até parece o meu quintal
Viajar,no fundo,é ver que é igual
O drama que mora em cada um de nós
Descobrir no longe o que já estava em nossas mãos
Minha vida brasileira é uma vida universal`
É o mesmo sonho,é o mesmo amor
Traduzido para tudo o que o humano for
Olhar o mundo é conhecer
Tudo o que eu já teria de saber
Estrangeiro eu não vou ser
Estrangeiro eu não vou ser
Ê,ê,ê,
Estrangeiro eu não vou ser ê,ê!"
dizem que os piores vieram para o Brasil. kkkkkkkkkkkkkk
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