AGENDA CULTURAL

16.2.14

Nany People: palavrão é cultura

Hélio Consolaro*

Gosto de humor; no meu cotidiano, sou um boca suja incurável; se for necessário num texto, uso o palavrão. Não sou adepto do politicamente correto, mas não gosto de shows que perdem a sutileza e diz um palavrão a cada três palavras pronunciadas.

Adoro espetáculos de rua (vaudevile) com palhaços, pequenas acrobacias, com aquele humor inocente que faz gargalhar até as crianças.

Ganhei os ingressos para assistir com a Helena ao espetáculo stand up “Tsunany”, com Nany People, no teatro Thathi Coc, antigo cine Pedutti, na rua General Glicério, Araçatuba. O Guilherme, produtor, foi tão gentil que não houve como não ir. Aliás, sempre é bom ver o diferente, aquilo que não nos agrada, aprendemos sempre mais com ele.

Lá encontrei o teatro cheiíssimo de uma plateia seleta, pois o espetáculo era pago. Cultura é aquilo que vi no Thathi Coc no dia 14/2/2014? Também é cultura, mas não é só aquilo. Cultura é o jeito de ser de um povo, de uma nação dentro de outra nação, de uma tribo nessa sociedade multifacetada. Cada segmento social tem sua cultura e uma não é melhor e nem pior do que a outra. Há pessoas que pagam caro para ouvir palavrão, outras assistem gratuitamente a bons espetáculos. Isso se chama diversidade cultural.  

Nem tudo que é pago seja ruim, nem tudo que é gratuito seja bom. Precisamos de casas de espetáculos do setor privado e do setor público. Faz-se necessário numa sociedade democrática o gestor público e o privado. E público não é sinônimo de governamental. A Secretaria Municipal de Cultura aluga o Vívere, por exemplo, quando suas casas não comportam grande plateia.

Nany, durante o espetáculo, mostrou que tem uma boa formação. Citou Bertold Brecht, declamou um soneto de Camões, deu lição de vida a muita gente, inclusive a mim. É uma artista completa, mas encontrou a veia do stand up como forma de exercer a sua profissão, dialogar com as pessoas: sobreviver.

Dizem os sociolinguistas que palavrão é a linguagem da ralé, mas às vezes a elite paga caro para vê-los pronunciados no palco com todas as letras, como faz Nany. É a interação das classes sociais.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP         

BIOGRAFIA DE NANY PEOPLE

2 comentários:

RILEX disse...

Puta que pariu, gostei do texto.

Vanessa Medeiros disse...

Sim, eu tambem gostei !