AGENDA CULTURAL

14.8.14

Se Deus é brasileiro...

Hélio Consolaro*

Eu entendo que morrer é um destino natural dos vivos, mas pode se morrer por vários motivos, inclusive pelo poder, que é uma atividade humana. Escorrega-se, cai, bate a cabeça no chão e morre. 
A morte de uma pessoa famosa como Eduardo Campos sempre repercute mais.

Confesso que a notícia me deixou chocado, porque os políticos voam tanto, atendendo a seus compromissos, e dificilmente morre um. Quero me solidarizar com os socialistas (PSB), com a família, com os pernambucanos, com a nação da qual pertenço: o Brasil.

Morrer quando a campanha eleitoral estava de fato começando foi uma tragédia. Eduardo Campos podia não ganhar em 2014, mas era uma liderança nacional em construção, seria uma alternativa no futuro.

Atiraram com “Fora, Dilma” e acertaram em Eduardo Campos. Infelizmente, estamos vivendo um clima político muito pesado: os perdedores não se conformam com a derrota e apelam, partem para ignorância, perdem a compostura. Isso contamina a ambiência.

E gente fina, com estudo, propriedades, mas gente sem Deus, porque não considera o outro como irmão, mas como inimigo. Essa gente tem raiva de ver seus semelhantes crescerem, serem incluídos socialmente.

Não deu tempo para o piloto de Eduardo Campos alcançar o aeroporto de Aécio Neves em Cláudio-MG. Se a classe emergente também anda de avião, morrer em desastre aéreo não tem mais glamour. É disso que a “socialite” tem raiva, os aeroportos viraram rodoviárias. Gente fina não gosta de viver misturada com gentinha.

Sempre me lembro de uma palestra dada em Araçatuba pelo sociólogo Vicente Trevas (década de 80) em que ele disse uma frase que me marcou muito: “Na política, a tragédia humana se evidencia, aparece mais”. A morte de Eduardo Campos foi a tragédia em maior potência.

Há pessoas que não se adaptam com o fato de viver uma nova realidade, por isso não adentram o mundo da política, onde tudo ecoa muito forte. Entrar na política é abandonar a intimidade do seu lar e pôr a sua vida na rua, correndo risco de morte. Uma besteira falada por um cidadão comum passa despercebida, mas se for pronunciada por um político, ganha ecos incalculáveis.

Morrer em campanha eleitoral não é tão comum. Surge mais um mito, como foi a morte de Tancredo Neves, de Ulisses Guimarães... Morreu por quê? Correr atrás do poder nunca foi muito simpático, mas alguém precisa fazer isso na vida em sociedade.

Nessa luta renhida pelo poder, a morte de Eduardo Campos é profética. Se Deus é brasileiro, deu o seu recado: Quem manda aqui sou eu!


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura-SP

Um comentário:

Anônimo disse...

O que mais me chamou a atenção neste seu irretocável comentário foi:
"Atiraram com “Fora, Dilma” e acertaram em Eduardo Campos. Infelizmente, estamos vivendo um clima político muito pesado: os perdedores não se conformam com a derrota e apelam, partem para ignorância, perdem a compostura. Isso contamina a ambiência".
Uma profunda e séria reflexão.
Gabriel - Bié.