AGENDA CULTURAL

14.11.14

Percorrendo os caminhos da literatura

Estar distante dos grandes centros urbanos não é um obstáculo para quem produz livros. Em Araçatuba o movimento literário é intenso e conta com diversos escritores membros da AAL (Academia Araçatubense de Letras), que fazem de suas aptidões na escrita um prazer e discutem a cada reunião novos direcionamentos para aperfeiçoamento e difusão da cultura. 

A academia é o principal órgão representativo do segmento literário e ponto de apoio à novos autores na região. Cerca de 20 membros participam ativamente das atividades mensais da entidade, além dos integrantes do grupo experimental, braço da organização, que desenvolve trabalhos literários com escritores que pleiteiam uma vaga na academia. 

Odette Costa Bodstein (1927-2006) escritora e colunista social, foi uma das fundadoras da AAL é grande entusiasta do mundo literário araçatubense. Odette incentivou diversos personagens influentes da cidade a propagarem seus trabalhos, expondo os dotes da escrita de cada um.

A professora e escritora Cidinha Baracat, 77, foi uma das estimuladas por Odette a publicar seu primeiro livro. Segundo Cidinha, sua intenção era “por para fora uma emoção, um sentimento”, sem ter a pretensão de publicar nenhum trabalho. No entanto por incentivo da então presidente da AAL, acabou tendo seus escritos publicados através do prêmio “João de Scantimburgo” concedido pela academia a época.

PRELÚDIO
Cidinha Baracat relembra da infância como uma incitação para a escrita. Ela conta que sua mãe educava as mulheres da colônia onde residiam, em Macatuba (SP), numa espécie de escola improvisada. Sempre participando dessas aulas, se alfabetizou aos cinco anos de idade e desde então demonstrou aptidão pela literatura. “Acho que é algo da minha própria natureza um gosto pela palavra escrita e principalmente pelos poemas”, comenta Cidinha sobre sua preferência pela poesia. 

"Tudo que a poesia envolve é na verdade momento da vida, que tem um sentido sublime, se soubermos percebe-lo." Cidinha explica que a poesia em si é "algo abstrato", mas o poema "concretiza o sentimento poético".  

Já a jornalista e também escritora, membro da AAL, Cecília Vidigal Ferreira, 59, conta que há uma tradição literária entre seus familiares. Seu pai, o poeta e jurista Geraldo de Camargo Vidigal (1921-2010), foi membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Internacional de História e Literatura de Lisboa e da Academia Internacional de Direito e Economia de São Paulo. Entre seus diversos trabalhos publicados, escreveu o livro de poemas “Predestinação”, prefaciado por Mario de Andrade. 

Outra referencia familiar de Cecília é sua irmã Betty Vidigal, jornalista, poeta e contista que é membro da União Brasileira de Escritores (UBE). 

Apesar de toda essa referência familiar, Cecilia afirma que não imaginava seguir esse caminho. “Meu pai escrevia talentosamente, minha irmã escrevia extraordinariamente bem, além de meus irmãos que também escreviam com maestria. Eu era a caçula e pensava que não precisava escrever”, lembra a escritora.  Ainda sobre essa influencia ela destaca que: “Tanto do lado do meu pai, quanto da minha mãe, eu tenho escritores bem conhecidos”. 

PUBLICAÇÕES
Cecília Ferreira ainda relembra que aos quatro anos de idade escreveu seu primeiro poema, mas que esse não foi o estopim para o estímulo à escrita. Sua grande entusiasta também foi Odette Costa. “Dona Odette insistiu demais que eu escrevesse, porque ela queria publicar no jornal um poema meu. Mas ela tanto exigiu que saiu no meu primeiro livro que é o 'Instantâneos'”, destaca Cecilia. 

A escritora teve seu primeiro livro publicado em São Paulo pela editora de Massao Ohno (1936-2010), um dos principais editores independentes de livro do país. Seu segundo trabalho, “Vinhos”, foi lançado pela Nankin Editorial, também na capital paulista. 

O também escritor e professor Tito Damazo, 66, atual presidente da Academia, conta que sentiu a necessidade de tornar públicas suas obras quando percebeu que possuía um conjunto de poemas dignos de publicação e assim surgiu seu primeiro trabalho "Insubmição", livro de poesias lançado em 1994. O escritor tem preferencia em ler e trabalhar com romances, contos e poesias. Mas quando o assunto é a produção de conteúdo, seu gosto fica restrito à crônica.

Dentre as obras publicadas por Tito, estão a critica literária “Ferreira Gullar -  uma poética do sujo”, também lançado pela paulista Nankin, o livro de poesias “Contrabaixo”, e seu mais recente trabalho é “Sob a batuta do bicho grilo”, que reúne poesias infantis, que está previsto para ser publicado ainda este ano.

INFLUÊNCIAS
De acordo com esses escritores, a formação cultural baseia-se tradicionalmente em estímulos pela leitura na infância, focada e direcionada em conteúdos clássicos e eruditos da época. Fugindo essa regra, o médico neurologista, Lourival Amílton Lautenschlager, 75, membro da AAL, adquiriu o prazer pela leitura de uma maneira diferente: os gibis; os quais afirma ter lhe dado suporte para seu desenvolvimento. "Devo muito da minha formação cultural aos gibis", explana Lourival. 

O mesmo se deu com a romancista Maria Luzia Villela, 84, que teve como fonte de inspiração uma tia, que segundo ela: "Dos ignorantes ela os fazia letrados, sábios, e dos indiferentes ela fazia gente interessada". Segundo Luzia, sua infância foi de extremo incentivo à leitura e estímulo ao pensamento.
Maria Luzia conta que durante a infância, na casa de sua tia sempre aguardava a chegada do jornal com o intuito de ler as tirinhas. "Meu irmão me ajudou muito quando eu comecei a me interessar pelas histórias, ele já lia 'Mutt e Jeff', que vinha nas tiras de jornal." 

AAL 
Recentemente, a Academia Araçatubense de Letras passou a ser um dos "Pontos de Cultura" do Consórcio Culturando de municípios, promovido pelo Ministério da Cultura. Dentre os projetos que a entidade desenvolve, está prevista a publicação de uma coletânea de textos literários de escritores da região, como também a ressistematização da circulação anual de sua revista “Plural”.

A academia também realiza tradicionalmente o “Concurso de Contos Osmair Zanardi”, saraus literários, shows lítero-musicais e mantém colunas literárias nos jornais da cidade.  Há anos mantém o funcionamento do Grupo Experimental cujas atividades giram em torno de leituras e discussões de textos, palestras e estudos literários, além de publicação de uma coletânea de textos dos participantes, basicamente a cada ano, denominada "Experimentânea".

Projeto municipal incentiva publicações de livros



 Um projeto desenvolvido através do governo municipal de Araçatuba busca estimular a publicação de produções literárias de escritores araçatubenses (a maioria membros da AAL) e de qualquer outro interessado que tenha pretensão de tornar públicos seus trabalhos. A iniciativa é administrada pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC). 

Segundo o escritor e também secretário municipal de Cultura, Hélio Consolaro, 66, no ano de 2014 o edital de literatura, custeado pela prefeitura sob o fundo municipal de cultura, contribuiu para a publicação de sete novos livros. "Araçatuba está na frente literariamente falando, mas bem longe do ideal. Temos editora, temos escritores, há a Academia Araçatubense de Letras, a União Brasileira de Escritores", elencou o secretário. 

Além disso, a Secretaria Municipal de Cultura realiza anualmente a Jornada de Literatura, que neste ano completou sua 6ª edição, realizada no mês de setembro. A jornada reúne escritores de Araçatuba e região, além de autores reconhecidos nacionalmente por suas obras. São realizadas atividades como teatros, saraus, palestras e shows musicais.

O prêmio é dividido em três categorias de publicações; coletânea, gênero misto e literatura infantil, sendo respectivamente os dois primeiros gêneros no valor de sete mil reais e o ultimo no valor de oito mil reais. Dois títulos de cada segmento (coletânea e literatura infantil) são publicados. Somente a categoria de gênero misto é que contempla três publicações. Ao todo, o governo municipal investe R$ 51.000,00 na promoção de novos trabalhos literários. 

Os interessados podem participar dos editais para publicação de livros. As inscrições sempre se iniciam no final do primeiro semestre de cada ano e o resultado sai entre os meses de agosto e setembro. 

Fonte: Hugo Rocha e Raphael Narcizo - Jornal "FATO" (Jornal laboratório feito pelos academicos do 6º semestre do curso de Comunicação Social - Jornalismo do Centro Universitário Toledo [UniToledo] como atividade da disciplina Jornalismo Impresso).  

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