Hélio Consolaro*
A letargia na participação política brasileira, aquela falta
de vontade de participar, uma cidadania
rala parece que ficou para trás. De um jeito ou de outro, muitos acordaram para
a necessidade de botar a sua colher pau, nem que seja meio torta, no angu de
caroço.
Alguns tentam engrossar o angu mexendo pela direita, outros
pela esquerda, não importa. As leis precisam ser obedecidas, nada de querer
ganhar pela força, pela violência. Perdeu ou ganhou, faça-se uma autocrítica,
veja onde errou e partamos para o próximo campeonato. Assim, construímos uma
democracia estável.
Na década de 80, quando iniciei minha militância política
institucional, os mais velhos me diziam:
- Política é um chiqueiro, você vai se chafurdar?
Não ouço mais isso nos dias atuais. Quando muito que “todos os
políticos são safados. Só chegarem lá, viram safados”.
A lógica da ação política é diferente numa democracia, cuja
diferença não é percebida pelo cidadão comum. Ninguém governa sozinho,
precisa-se da maioria, precisa ceder. Se um vereador para votar a favor de um
projeto do prefeito, solicita que o bairro dele seja asfaltado, não é
corrupção, ele apenas está pondo a sua força política a favor de seu
eleitorado. A política é a arte do possível, ainda bem que é assim, pois desse
jeito eliminam-se os autoritários.
![]() |
Autran Dourado |
Estou escrevendo tudo isso porque li o livro “Ópera dos
Mortos”, de Autran Dourado, escritor brasileiro (mineiro), cuja obra faz parte
da História Universal da Literatura. O escritor foi secretário de imprensa da República, de 1958 a 1961, no governo Juscelino Kubitschek.
Lá o coronel João Capistrano Honório Costa se meteu na política local num município indeterminado de Minas, quando disputavam eleições dois grupos: Periquitos e Sapos. E o coronel sempre alheio à luta política local, olhava-a por cima, coisa menor, mas naquele pleito resolveu se meter, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Perdeu, se achou roubado, ainda por cima os dois grupos adversários entre si fizeram um acordo por baixo, deixando o coronel com a brocha, sem escada.
Lá o coronel João Capistrano Honório Costa se meteu na política local num município indeterminado de Minas, quando disputavam eleições dois grupos: Periquitos e Sapos. E o coronel sempre alheio à luta política local, olhava-a por cima, coisa menor, mas naquele pleito resolveu se meter, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Perdeu, se achou roubado, ainda por cima os dois grupos adversários entre si fizeram um acordo por baixo, deixando o coronel com a brocha, sem escada.
Quincas Ciríaco, seu conselheiro, também avesso à política, repetia
a frase:
- Política, coronel, é mão na bosta! Não falei...
Assim ocorreu com Antônio Ermírio de Morais, quando ficou em segundo lugar como candidato a governador do Estado de São Paulo, perdendo
para Orestes Quércia (PMDB), em 1986. A fama de homem sério foi sepultada nas
urnas.
Mão na bosta não é só na política, mas em todas as
atividades humanas, como no comércio por exemplo. Não há lugar para ingênuos. Como
dizia meu compadre, só ponho a mão na bosta no escuro, quando não vejo a fedorenta.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário