Samuel Costa*
Reflito os dias turbulentos que vivo, como sou negro, descendente, de pessoas que um dia foram escravizadas, tenho um olhar particular dos dias atuais. E não posso deixar de ficar preocupado, não comigo, pois sou ‘’macaco-velho’’, e tenho as costas lanhadas de tanto levar umas e outras da vida, temo por pessoas, como meu filho que acaba de completar oito anos.
Reflito os dias turbulentos que vivo, como sou negro, descendente, de pessoas que um dia foram escravizadas, tenho um olhar particular dos dias atuais. E não posso deixar de ficar preocupado, não comigo, pois sou ‘’macaco-velho’’, e tenho as costas lanhadas de tanto levar umas e outras da vida, temo por pessoas, como meu filho que acaba de completar oito anos.
A virulência patriótica do domingo último (15/3/2015), eu analiso friamente, na
melhor calma do mundo, se é que isso é possível nessa altura dos acontecimentos.
Tida por alguns quase amigos meus como marcha patriótica. Tida como redentora
que marca, um divisor de águas no Brasil.
Salvar o Brasil dele mesmo, da tal
onda comunista, que assola o continente sul americano. A praga vermelha, que
vem acabando com a ordem imposta pelos colonizadores séculos atrás. Primeiro
foram os índios a serem vencidos, depois foram os negros a serem domesticados e
por último uma guerra entre os próprios colonizadores.
Só então ouvido o lema
América para os americanos, foi entoados primeiro pelo norte em língua inglesa,
para depois descambar para terras latinas, isso não de forma linear é claro.
Mas voltando para os dias contemporâneos e devolvendo as
coisas para os seus devidos lugares, a onda conservadora em sua marcha
patriótica verde-amarelista e nacionalista tupiniquim, não é a primeiro e
provavelmente será a última grande onda conservadora por aqui nessas paragens.
Pois em um mundo globalizado, conectado e de comunicação instantânea,
salvadores da pátria bem vestidos e municiados de todo a sorte de preconceito
de classes e raças, tendem a virar peças de museus, no grande museu chamado
história, que já sepultou impérios, imperadores e aniquilou reis e rainhas e
deixou obsoletas formas estáticas de pensar.
O tempo reduz verdades absolutas,
principalmente o direito de liderar por nascimento puro e simples.
O meu olhar de negro periférico e com poucas oportunidades
na vida, em suma mal/mau nascido. Fazer marchas em locais longe das zonas ditas
periferias, para que as coisas voltem ao seu devido lugares é ótimo.
Marchas
bem estruturadas e bem financiadas pelas grande corporações e bem cobertas por
grande conglomerados de mídia, é hilário ao mesmo tempo. Mas, o que me preocupa
mais, nessa conversa entre surdos e mudos, que vai do nada para lugar algum,
são os atos diários que se seguem, dessa gente que marchou no dia 15 de março
para salvar o país dele mesmo.
O anticomunismo barato somado ao fim do mito da
harmonia de classes e raças. Esses seres estranhos, extraterrenos que mais que
de repente invadem lugares sagrados antes proibidos para os mesmos.
Temos ver
pequenos atos de ódio dessa gente que marchou no dia 15 de março, digo pequenos
atos, pois não creio que o fim do mito do brasileiro cordial seja uma boa para
essa gente bem nascida, bem estruída e bem vestida. Pois gente como eu é bem
tratada, como uma boa criança grande que é. Daqui para frente, creio eu no alto
da minha mania de querer entender as coisa e antever outras, vamos ver atos de
violências cotidianos, dos ditos salvadores da pátria verde-amarelistas e
nacionalista tupiniquim.
*Samuel da Costa, revista "O Estilingue", Coletivo de Escritores Periféricos de Itajaí-SC
Um comentário:
Muito boa essa sua dissecação. Acho que inventei essa palavra, ou jpa existe? rs. Na verdade essa marcha visa o que? Qque o país volte a ser impune, os roubos institucionalizados? Ou quem sabe o pobre não ande mais de avião, talvez o negro não deva ir para universidade. Aí então ficaria tudo como era antes, um pequeno grupo de privilegiados com acesso atudo. Parabéns pelo texto.
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