Sexta-feira foi um dia mais alegre e
colorido no Facebook. Depois de anunciado pelo presidente norte-americano,
Barack Obama, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo para todos
os estados dos Estados Unidos houve o que chamamos de “efeito dominó” por todo
mundo, materializado, sobretudo, no Facebook, aonde várias pessoas, empresas e
instituições de renome internacional, como a ONU – Organização das Nações
Unidas, coloriram suas páginas/imagens de perfil com as cores da bandeira
LGBT/Arco-íris.
Foi muito significativo ver perfis dos
mais diversos coloridos, expressando de forma visual “Sim, eu apoio o direito
de quem quer ser feliz”. Fiquei observando alguns “amigos virtuais”: casais
heteronormativos, com seus filhos e tudo, coloridos; amigos e amigas também
heterossexuais que aderiram à causa e coloriram seus perfis; além, é claro, dos
amigos e amigas gays que, pela consciência que têm do tema, obviamente aderiram
à campanha; inclusive os que vivem “no armário” aproveitaram a “onda colorida”
e se coloriram, vivenciando, ainda que virtualmente, a delícia e o horror de ser
aquilo que são.
Enquanto no Brasil, nas últimas
semanas, estivemos sob várias polêmicas ligadas a questões afetivo-sexuais, com
várias questões e posicionamentos dos mais diversos sobre o direito dos
homossexuais expressarem e viverem o que são, a lição, mais uma vez, vem de
fora. E, por ironia do destino, justamente de uma nação que teve (e tem) sua
formação a partir do chamado movimento protestante/evangélico, cujo líder, o
presidente norte-americano, pertence a uma denominação evangélica.
Não de agora o Brasil vive a reboque do
mundo; Carmem Miranda precisou fazer sucesso lá fora para o Brasil reconhecê-la
como uma importante artista; Candido Portinari teve que se submeter às normas e
padrões da Academia de Belas Artes para, então, ir para a Europa, fazer o que
já fazia aqui, ser reconhecido lá por isso e, depois, voltar e ser aplaudido;
Gisele Bündchen só chegou onde chegou porque atuou fora de nosso País...
E assim nós podíamos elencar uma série
de pessoas, ações, produtos e instituições nacionais que, aqui, passam como
transparentes diante de nossos olhos, mas basta um gringo chamar para si que
nós, desdenhosos que somos, logo ficamos de olho no ignoto. Sinto, às vezes,
que agimos como um ser ainda muito primitivo, alienado a determinadas questões
do mundo e, por isso, precisamos sempre de alguém para referendar nossas ações
e valorizar o que temos.
É muito certo que, depois dessa atitude
do presidente Obama, muitas “nações enrustidas” saiam do armário e se alinhem à
sua decisão; é muito provável que outros líderes mundiais percebam que, a par
de questões e credos pessoais, devam governar não para este ou aquele grupo,
mas para toda uma nação; será muito prazeroso ver outros países entendendo que
há homossexuais em seus países, que estes também pagam impostos, que contribuem
para com o crescimento da nação, seja em pesquisa, em educação, em vendas, em
cuidados para com o social etc e que também precisam de atenção, respeito,
cuidado e políticas públicas que os atendam.
O Brasil, que gosta tanto de copiar
tantas coisas lá de fora, que curte tanto as músicas e seriados
norte-americados, que está tão antenado com o universo do primeiro mundo e que
almeja tanto chegar ao patamar da educação, cultura, política e vivência social
lá de fora pode já, a partir desse tema, começar a lição de casa. Os nossos
políticos, sobretudo os da chamada bancada cristã (evangélicos e católicos),
podem ter o evangélico Obama como parâmetro para suas decisões no que se refere
a governar um país sem se levar por questões pessoais.
*Antonio Luceni é
professor, jornalista e escritor.
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