AGENDA CULTURAL

6.7.15

E tudo ficou colorido


Antonio Luceni*
  
Sexta-feira foi um dia mais alegre e colorido no Facebook. Depois de anunciado pelo presidente norte-americano, Barack Obama, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo para todos os estados dos Estados Unidos houve o que chamamos de “efeito dominó” por todo mundo, materializado, sobretudo, no Facebook, aonde várias pessoas, empresas e instituições de renome internacional, como a ONU – Organização das Nações Unidas, coloriram suas páginas/imagens de perfil com as cores da bandeira LGBT/Arco-íris.

Foi muito significativo ver perfis dos mais diversos coloridos, expressando de forma visual “Sim, eu apoio o direito de quem quer ser feliz”. Fiquei observando alguns “amigos virtuais”: casais heteronormativos, com seus filhos e tudo, coloridos; amigos e amigas também heterossexuais que aderiram à causa e coloriram seus perfis; além, é claro, dos amigos e amigas gays que, pela consciência que têm do tema, obviamente aderiram à campanha; inclusive os que vivem “no armário” aproveitaram a “onda colorida” e se coloriram, vivenciando, ainda que virtualmente, a delícia e o horror de ser aquilo que são.

Enquanto no Brasil, nas últimas semanas, estivemos sob várias polêmicas ligadas a questões afetivo-sexuais, com várias questões e posicionamentos dos mais diversos sobre o direito dos homossexuais expressarem e viverem o que são, a lição, mais uma vez, vem de fora. E, por ironia do destino, justamente de uma nação que teve (e tem) sua formação a partir do chamado movimento protestante/evangélico, cujo líder, o presidente norte-americano, pertence a uma denominação evangélica.

Não de agora o Brasil vive a reboque do mundo; Carmem Miranda precisou fazer sucesso lá fora para o Brasil reconhecê-la como uma importante artista; Candido Portinari teve que se submeter às normas e padrões da Academia de Belas Artes para, então, ir para a Europa, fazer o que já fazia aqui, ser reconhecido lá por isso e, depois, voltar e ser aplaudido; Gisele Bündchen só chegou onde chegou porque atuou fora de nosso País...

E assim nós podíamos elencar uma série de pessoas, ações, produtos e instituições nacionais que, aqui, passam como transparentes diante de nossos olhos, mas basta um gringo chamar para si que nós, desdenhosos que somos, logo ficamos de olho no ignoto. Sinto, às vezes, que agimos como um ser ainda muito primitivo, alienado a determinadas questões do mundo e, por isso, precisamos sempre de alguém para referendar nossas ações e valorizar o que temos.

É muito certo que, depois dessa atitude do presidente Obama, muitas “nações enrustidas” saiam do armário e se alinhem à sua decisão; é muito provável que outros líderes mundiais percebam que, a par de questões e credos pessoais, devam governar não para este ou aquele grupo, mas para toda uma nação; será muito prazeroso ver outros países entendendo que há homossexuais em seus países, que estes também pagam impostos, que contribuem para com o crescimento da nação, seja em pesquisa, em educação, em vendas, em cuidados para com o social etc e que também precisam de atenção, respeito, cuidado e políticas públicas que os atendam.

O Brasil, que gosta tanto de copiar tantas coisas lá de fora, que curte tanto as músicas e seriados norte-americados, que está tão antenado com o universo do primeiro mundo e que almeja tanto chegar ao patamar da educação, cultura, política e vivência social lá de fora pode já, a partir desse tema, começar a lição de casa. Os nossos políticos, sobretudo os da chamada bancada cristã (evangélicos e católicos), podem ter o evangélico Obama como parâmetro para suas decisões no que se refere a governar um país sem se levar por questões pessoais.

*Antonio Luceni é professor, jornalista e escritor.


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