AGENDA CULTURAL

7.7.15

Na Grécia, uma aula de política

O que está ocorrendo hoje na Europa, com os avanços que têm como protagonistas o Syriza (Grécia) e o Podemos (Espanha), mostra o predomínio da opção por jogar o jogo da política e enfrentar as classes dominantes na luta pelo controle do Estado

Por Igor Fuser - Revista Fórum
Com o espírito alegre pela vitória do “não” no referendo grego, abri o livro de Chantal Mouffe, uma das pensadoras mais lúcidas sobre a ação política radical na atualidade, intitulado “Agonística – Pensar el mundo politicamente”. Lá encontrei algo que vale a pena compartilhar.
A socióloga belga fala sobre duas estratégias opostas que disputam influência sobre os movimentos de luta contra a globalização neoliberal. A primeira estratégia é a que prega a “deserção” (ou abandono) das instituições. A segunda consiste no “envolvimento crítico” com o Estado e os canais de participação política e eleitoral, utilizando, até o limite, as possibilidades aí existentes para avançar na busca da transformação social.
Os ativistas que negam a ação política institucional já não aspiram a se transformar em maioria entre os cidadãos. Muito menos, pretendem se tornar governo. O importante, para eles, é constituir espaços autônomos onde seja possível desenvolver formas alternativas, não autoritárias, de organização coletiva.
Em contraste com essa primeira corrente, atuam os militantes dispostos a disputar a hegemonia na sociedade e a construir uma vontade coletiva capaz de travar a luta pela orientação do Estado. Para isso, afirma Mouffe, é necessário determinar com clareza quem é o adversário a ser combatido. Essa definição demarca o campo entre “nós” e “eles”, em uma guerra de posições (como dizia Gramsci) que mobiliza partidos, movimentos sociais e sindicatos em uma multiplicidade de lugares.
O que está ocorrendo hoje na Europa, com os avanços que têm como protagonistas o Syriza (Grécia) e o Podemos (Espanha), mostra o predomínio da opção por jogar o jogo da política e enfrentar as classes dominantes na luta pelo controle do Estado.
É para o Estado, afinal, que convergem as expectativas de todos os atores sociais. As políticas públicas, a cobrança dos impostos, o “sim” ou o “não” ao desmanche de direitos sociais promovido pelo capital financeiro – tudo isso passa pelas instituições da democracia representativa. Abandoná-las, como defendem os neoanarquistas, é deixar a burguesia com a faca e o queijo na mão, para nos devorar.

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