Hélio Consolaro*
Você, caro leitor, que é mais novo (ou mais nova), já ouviu
dizer a expressão: aquela sala está uma zona! Ou seja: está uma bagunça!
No dicionário, a palavra “zona” pode significar área ou
espaço limitado. Zona azul, por exemplo, porque sarjetas são pintadas dessa cor,
mostra que o estacionamento de veículos ali é cobrado. Mas pode significar
outras coisas, dentre elas, ruas em que se acha estabelecido o meretrício.
Não sabe o que seja meretrício, caro leitor? Um cronista velho
anda com o vocabulário passivo carregado de arcaísmos (palavras velhas,
desusadas). Zona do meretrício ou lupanário era o lugar onde a sociedade muito
machista isolava as “mulheres da vida”, porque as esposas eram as “mulheres da
morte”. Esse lugar era chamado por redução de “zona”, lugar de muita alegria
para os homens.
Então, caro leitor, a minha crônica hoje se refere à moça
que trabalha na zona azul de Araçatuba, aquela que vai olhar se seu carro tem o
tíquete de pagamento que lhe dá o direito de estacionar. A vida urbana nos cria
certas armadilhas e quem não quer se submeter a elas, deve procurar viver no
campo, na zona rural, com muita largueza.
As moças da zona (azul) não se perderam, muitas podem ser até
virgens, estão felizes porque arrumaram um trabalho para ganhar a vida com
decência. Não que as “mulheres da vida” não sejam decentes, são apenas mal
vistas pela sociedade.
O trânsito de uma cidade precisa ser organizado, porque todo
mundo quer andar montado, se possível, motorizado. Assim, criou-se há muitos
anos o expediente da “zona azul”, cobrar para estacionar como forma de
estabelecer o rodízio.
Quando a moça da zona sai para trabalhar, ela reza para
encontrar pelas ruas gente pacífica, com civilidade, resumindo, que tenha
educação. Sempre existiu a arrogância, mas hoje ela está muito à flor da pele,
porque certas pessoas não aceitam ser cobrado por uma moça da zona azul, uma
empregadinha da periferia: quem você pensa que é, você sabe com quem está
falando?!
Eu responderia: “sou uma cidadã, ganhando minha vida
honestamente”. E completaria: “Estou falando com um saco de tripas como eu”.
Lógico que elas são treinadas para terem nervos de aço e raramente são
mal-educadas.
Então, a arrogância é uma especialidade masculina, mas ela anda
invadindo os corações femininos também. Então, sujeito ou sujeita, a zona azul
não é uma zona, é um princípio de organização do trânsito de veículos numa
cidade.
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