AGENDA CULTURAL

11.9.15

Charanga de bêbados

                                                        
Tharso Ferreira*
   
Sou escritor, minhas bicadas são as letras, num País analfabeto isso não passa de bafos, se falando ninguém me ouve escrevendo sou um mudo. Pessoas que não distinguem um pingo como ouvirão minha letra? Tal resposta faz cinquenta anos que quero ouvir. Tem algum tempo estou cometendo um crime contra mim me metendo entre os homens de mentiras ousadas, os políticos. Não se enganem! É um corredor apertado. No meio desta alcateia de espertalhões, vagabundos de ideias senis, cavaleiros se forjando cavalheiros, bêbados sociais que nos escuros corredores todos são amigos para praticarem seu canibalismo folclórico contra os pagadores de impostos ( não estou falando nada demais, os brasileiros sabem do que falo ), isto é rotina no meu País desde Cabral, graças, obviamente a uma imprensa que evita qualquer assunto sério, mas adora um circo de peneira para tapar tudo já prevendo que o brasileiro é um bocó que não ama a sua própria pátria e alimentam frustrações em homens como eu e outra meia dúzia que possivelmente entenderão este texto.

   Tais corredores de enganos evitam minhas bicadas de galo velho, lá vem o filósofo, os homens de segurança, vulgo “vigia” avisam pelo celular, o filósofo está por aqui, as portas se fecham, desnecessário dizer onde acontece a ciscaria, o leitor sabe. Essas técnicas fugidias dão certo, tudo isto pago pelo erário. É a lei. Se eu me meter a besta não faltarão gorilas para por fim aos meus anseios, não me arrisco, meu forte são as palavras, se insistir me arrastam para um manicômio e aí com estes juízes que legislam por aí viro roleta russa. Sei como ninguém como funciona o processo judicial neste país, fui preso político. A polícia que deveria me proteger é a que me bate e a imprensa que odeia coisa séria dá de ombros e coloca seus repórteres para fotografar alguma beata rica e seu vestido novo que custa uma casa para esvoaçar sua vaidade em uma fotografia de meia página numa coluna social para que os ossos das invejosas sequem de inveja.

   O ex rippie, Sério, deixou a filosofia rippie, aventureiro de sangue, esqueceu os Beatles e os Rolling Stones e virou prefeito pelos mesmíssimos caminhos de todo mundo, o trabalho social sindical. Distinguiu-se do rebanho não com ideias, mas com caridade social, neste contexto pobre é uma ferramenta necessária, chama a atenção, atrai poder, e como o poder depende das ilusões que se cria fez das suas ações em público obras de arte. Já bateu a porta na minha cara, mas gosto dele, é esperto conhece seus limites, não fala comigo sozinho. Ainda está com os surtos do poder da representação. Aí melhor não arriscar.

   Na política sempre há bons negócios à vista, é a sociedade do consumo é que obriga homens limitados a fazerem coisas sem limites para terem prestígio numa sociedade deserdada de ideias. Os políticos são este caldo grosso adocicado pelas empreiteiras e o sal das leis cheias de mutretas deste meu país varonil. São estes urubus que se metem nas sacadas dos palácios, das prefeituras, destroçam as malhas das leis e espantam as ideias de esperança dos povos e tomam de assalto as parcas conquistas, de segunda a segunda, é esta a apodrecida grandeza de séculos que virou cultura nesta terra que murcham flores. Meu amigo de cadeira, coxo, sinal de decrepitude, Hélio Consolaro, secretário da cultura, cargo técnico, escapa deste muro de pedras, trabalha como louco do único jeito que conhece: o suor. Os outros não fariam nem com juntas de bois o que ele faz com os braços. Deveria ser imitado, pois não é refém desta desordem.

   Fiz uma peneirada para engatar uma nova candidatura, achei talento nenhum, mas dinheiro aos borbotões. Encontrei tudo pronto, tudo a mesma coisa de cem anos, tudo sob o signo da mesmice. Vi meu escolhido cercado de engenheiros de marketing, não entrei em pânico, pois sou protegido pela velhice de ver sempre a mesma coisa vida afora. Meu lírio gordo tenta me ouvir, mas minha linguagem lhe parece difícil, temo insultá-lo, o cara é uma simpatia, bem dirigido vai longe, mal dirigido cai no precipício da largada com seus sacos de dinheiro. Ainda não me chamou para o seu QG, sem estar lado a lado não trabalho. Política dá vômitos em quem não a conhece. Não é feita pelos melhores homens, nem tem a proteção do espírito santo, não se porta com decência mínima, não cumpre os ditos de mesa, não evita os corrosivos de plantão, machuca corações de honestos e tem uma vocação soberba para o pântano e não é feita de venham a mim as criançinhas. Portanto charme, corpo manso e simpatia não fazem políticos de urna.

   Promover charangas de bêbados, festividade para ser reconhecido no meio político, milhões de amigos no facebook para bem mais forte poder cantar e aparecer em programas televisivos é dar de comer ao público de sua própria comida, e dar de beber o que já lhe é próprio. Quem quiser entender que entenda. Tenho dito.
                                                                                                             * Tharso José Ferreira é  escritor, ocupa uma cadeira na academia se letras, professor, chargista, desenhista de quadrinhos, publicitário, ator amador, contista, letrista e filósofo.


                                                             

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