Tharso Ferreira*
Sou escritor, minhas bicadas são as letras, num País analfabeto isso não
passa de bafos, se falando ninguém me ouve escrevendo sou um mudo. Pessoas que
não distinguem um pingo como ouvirão minha letra? Tal resposta faz cinquenta
anos que quero ouvir. Tem algum tempo estou cometendo um crime contra mim me
metendo entre os homens de mentiras ousadas, os políticos. Não se enganem! É um
corredor apertado. No meio desta alcateia de espertalhões, vagabundos de ideias
senis, cavaleiros se forjando cavalheiros, bêbados sociais que nos escuros
corredores todos são amigos para praticarem seu canibalismo folclórico contra
os pagadores de impostos ( não estou falando nada demais, os brasileiros sabem do
que falo ), isto é rotina no meu País desde Cabral, graças, obviamente a uma
imprensa que evita qualquer assunto sério, mas adora um circo de peneira para
tapar tudo já prevendo que o brasileiro é um bocó que não ama a sua própria pátria
e alimentam frustrações em homens como eu e outra meia dúzia que possivelmente
entenderão este texto.
Tais corredores de enganos evitam minhas bicadas de galo velho, lá vem o
filósofo, os homens de segurança, vulgo “vigia” avisam pelo celular, o filósofo
está por aqui, as portas se fecham, desnecessário dizer onde acontece a
ciscaria, o leitor sabe. Essas técnicas fugidias dão certo, tudo isto pago pelo
erário. É a lei. Se eu me meter a besta não faltarão gorilas para por fim aos
meus anseios, não me arrisco, meu forte são as palavras, se insistir me
arrastam para um manicômio e aí com estes juízes que legislam por aí viro
roleta russa. Sei como ninguém como funciona o processo judicial neste país,
fui preso político. A polícia que deveria me proteger é a que me bate e a
imprensa que odeia coisa séria dá de ombros e coloca seus repórteres para
fotografar alguma beata rica e seu vestido novo que custa uma casa para
esvoaçar sua vaidade em uma fotografia de meia página numa coluna social para
que os ossos das invejosas sequem de inveja.
O ex rippie, Sério, deixou a filosofia rippie, aventureiro de sangue,
esqueceu os Beatles e os Rolling Stones e virou prefeito pelos mesmíssimos
caminhos de todo mundo, o trabalho social sindical. Distinguiu-se do rebanho não
com ideias, mas com caridade social, neste contexto pobre é uma ferramenta
necessária, chama a atenção, atrai poder, e como o poder depende das ilusões
que se cria fez das suas ações em público obras de arte. Já bateu a porta na
minha cara, mas gosto dele, é esperto conhece seus limites, não fala comigo
sozinho. Ainda está com os surtos do poder da representação. Aí melhor não
arriscar.
Na política sempre há bons negócios à vista, é a sociedade do consumo é
que obriga homens limitados a fazerem coisas sem limites para terem prestígio
numa sociedade deserdada de ideias. Os políticos são este caldo grosso
adocicado pelas empreiteiras e o sal das leis cheias de mutretas deste meu país
varonil. São estes urubus que se metem nas sacadas dos palácios, das prefeituras,
destroçam as malhas das leis e espantam as ideias de esperança dos povos e
tomam de assalto as parcas conquistas, de segunda a segunda, é esta a
apodrecida grandeza de séculos que virou cultura nesta terra que murcham flores.
Meu amigo de cadeira, coxo, sinal de decrepitude, Hélio Consolaro, secretário da cultura,
cargo técnico, escapa deste muro de pedras, trabalha como louco do único jeito
que conhece: o suor. Os outros não fariam nem com juntas de bois o que ele faz
com os braços. Deveria ser imitado, pois não é refém desta desordem.
Fiz uma peneirada para engatar uma nova candidatura, achei talento
nenhum, mas dinheiro aos borbotões. Encontrei tudo pronto, tudo a mesma coisa
de cem anos, tudo sob o signo da mesmice. Vi meu escolhido cercado de
engenheiros de marketing, não entrei em pânico, pois sou protegido pela velhice
de ver sempre a mesma coisa vida afora. Meu lírio gordo tenta me ouvir, mas
minha linguagem lhe parece difícil, temo insultá-lo, o cara é uma simpatia, bem
dirigido vai longe, mal dirigido cai no precipício da largada com seus sacos de
dinheiro. Ainda não me chamou para o seu QG, sem estar lado a lado não
trabalho. Política dá vômitos em quem não a conhece. Não é feita pelos melhores
homens, nem tem a proteção do espírito santo, não se porta com decência mínima,
não cumpre os ditos de mesa, não evita os corrosivos de plantão, machuca
corações de honestos e tem uma vocação soberba para o pântano e não é feita de
venham a mim as criançinhas. Portanto charme, corpo manso e simpatia não fazem
políticos de urna.
Promover charangas de bêbados, festividade para ser reconhecido no meio
político, milhões de amigos no facebook para bem mais forte poder cantar e
aparecer em programas televisivos é dar de comer ao público de sua própria
comida, e dar de beber o que já lhe é próprio. Quem quiser entender que
entenda. Tenho dito.
* Tharso José Ferreira é escritor, ocupa uma cadeira na academia
se letras, professor, chargista, desenhista de quadrinhos, publicitário, ator
amador, contista, letrista e filósofo.
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