Hélio Consolaro*
Tenho brigado com os pedestres de Araçatuba. Não chega a ser
uma briga, resmungo comigo mesmo diante do descalabro. Rosno.
Minha mulher, por exemplo, dirigindo veículo, espera o sinal
abrir nas altas horas da noite, tornando-se alvo fácil de um assalto. Enquanto
pedestre, atravessa o sinal fechado. Não é uma incoerência? E se falo algo, vem
resposta malcriada. Mulher velha é um problema, fica desbocada, perde o
respeito.
Outro dia, uma senhora, pedestre, queria atravessar a
avenida João Arruda Brasil, na rotatória da av. Waldemar Alves. Esperava,
esperava, mas o sinal não abria para ela. Provavelmente esperou muito, porque ela
não sabia que havia uma botoeira à sua disposição, comandada por pedestre, que
podia abrir a travessia da rua para si. Passei de carro e vi aquilo.
Chegamos à conclusão de que o homem urbano do interior ainda
tem sua cabeça na roça, ainda não é um urbanoide.
Pedestres desobedecendo a sinal vermelho |
Quando vou ao serviço, passo pelo calçadão, no limite com a
rua Duque de Caxias. Como pedestre, vejo os meus companheiros de “pé dois”
fazerem barbaridades, desafiando motoristas. Como motorista, tenho vontade de
dar um susto medonho num pedestre, uma brecada brusca, daquela que o parachoque
fica fazendo ventinho na calça do cidadão. Há gente tão desligada, mas tão desligada,
que ainda não descobriu que há semáforo para pedestres.
Tenho conhecimento de que o pedestre é o rei do trânsito,
afinal, a cidade não foi feita para o carro, mas para as pessoas, mas
precisamos de regras mínimos para que a vida se torne mais fácil.
Agora, caro leitor, vou contar-lhe duas barbaridades. Eu
estava esperando o semáforo de pedestres abrir, e vinha um guarda municipal, a pé,
no sentido contrário que atravessou a rua com o semáforo fechado. Eu o esperava
do outro com um sorriso de escárnio. Como sou secretário municipal, não da Segurança,
mas da Cultura, achei por bem, assim mesmo, sapecar-lhe um sabão. Terminei
assim:
- Dê o exemplo, seu guarda!
Botoeira para pedestre |
Assim o tempo passou. Três policiais militares fizeram
questão de completar esta crônica com chave de ouro. Eu, esperando o sinal de
pedestre abrir, os três (havia uma soldada) deram uma olhadinha e atravessaram
o sinal fechado. Quase corri atrás e sapequei-lhes um pontapé em cada fundilho.
Como mudar o comportamento é difícil. Não existe nada mais
difícil do que a mudança de mentalidade. Tentemos, continuemos.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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