Dom Carlo Maria Martini |
Meu amigo, já com 70 anos, tinha uma namorada.
Ele chegou chateado e me disse:
- A fulana me largou?
Demonstrei surpresa, pois se davam tão bem. E
ele havia me declarado que ela seria o último amor da vida dele. Perguntei-lhe qual
fora o motivo.
- O filho dela me chama de ateu. E ele não
confia em ateus. Fez a cabeça da mãe.
Perguntei-lhe se ele a proibia de ir à igreja. Ele me disse que não, ao contrário, ela que forçava a sua ida à igreja dela.
Lembrei-me de um livro que li na década de 90, que reproduzia um
debate do intelectual italiano Umberto Eco e Dom Carlo Maria Martini, cardeal
de Milão, publicado por uma revista da Itália.
O livro se chama "Em que crêem os que não
crêem". Entre temas variados como
“Onde têm início a vida humana”, “A obsessão laica pelo novo Apocalipse”, “Os
homens e as mulheres segundo a igreja” e “Onde o leigo encontra a luz do bem”,
os debatedores tentam colocar no papel as principais dúvidas e pontos de
acordo entre os ateus e os católicos.
O último tema
relacionado aos princípios que norteiam a ética laica e que é a primeira e
única sugestão de tema feita pelo Cardeal Martini constitui o
ponto de destaque do livro. Confrontando a ética religiosa que busca em Deus e
no absoluto a inspiração para a prática do bem e a ética laica e que busca no
respeito e na relação com o outro os seus parâmetros. O religioso não achava possível uma pessoa ser
boa sem sem ter religião.
Essa indisposição de conviver com o diferente é que gera a mágoa, a desilusão, a violência. Meu amigo é um sujeito elegante, cavalheiro, educado, mas tinha uma fé sem muita convicção. Como se Deus precisasse dele para existir.
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