Há crises para todos os gostos: crise financeira, crise
política, crise moral, crise existencial, crise da representação, crise do
livro, crise da educação. Quando o velho não dá conta e o novo não demonstra
competência, então instala-se a crise. Então, na narrativa da crise tem o antes
e o depois. É a quebra da estabilidade, geralmente entra em crise quem está
perdendo o jogo.
Etimologicamente “crise” vem de um verbo grego que
significava distinguir, escolher, decidir, julgar. Com todos esses
conhecimentos, uma amiga historiadora entrou em minha sala e disse:
- – Crise uma ova! Crise é um discurso.
Com essa frase tão simples, passei a entender os objetivos perversos
de quem trabalhava para a crise instalar-se. Aliás, se todo mundo acreditar que
está em crise, ela se instala, por isso o economista e ex-ministro da Fazenda
Delfim Neto diz que ela tem um caráter psicológico. Muito administrador
incompetente se esconde atrás da palavra crise. E tenho amigos empresários que
estão se afundando porque acreditaram na crise.
Sabe qual a diferença entre Lula e Dilma? Em 2008, quando a
crise norte-americana chegava aqui, ele disse que era uma marolinha, e gritou:
“Não parem de comprar”. E todos acreditaram nele e tivemos ajustes. Dilma
abraçou a crise construída pela oposição. Então, lascou-se. Toda crise
beneficia quem tem mais, quem está com liquidez. De tempos em tempos, a
economia capitalista precisa da crise para retirar direitos dos trabalhadores e
minguar os investimentos sociais.
No governo do PT, a classe trabalhadora teve o seu
crescimento no poder aquisitivo e no leque de direitos. A burguesia não
suportava isso, além de não tolerar viajar com pobres no mesmo avião, estava
diminuindo seu ganho, porque estava em curso a distribuição de renda. Então,
inventou-se a crise.
A entrevista do filósofo italiano Giorgio Agamben publicada
no Blog
da editora Boitempo, que me foi passado pelo escritor Tharso Ferreira, diz
uma verdade incontestável:
“Crise e economia atualmente não são usadas como conceitos,
mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se
aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar.
Crise hoje em dia significa simplesmente ‘você deve obedecer!’. Creio que seja
evidente para todos que a chamada crise já dura decênios [refere-se à Europa] e
nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E
se trata de um funcionamento que nada tem de racional.”
Então, caro leitor, o município de Araçatuba estava em
crise, só não atrasou o pagamento dos funcionários, mas o prefeito Cido Sério
(PT) fechou o nariz e mandou um projeto de lei para a Câmara Municipal de Araçatuba para resolver
o problema dos inadimplentes e sonegadores, perdoando-lhes multas e honorários advocatícios. Muita gente achou o dinheiro, acertou os impostos
municipais e os cofres da Prefeitura saíram da crise. Se houvesse uma crise
verdadeira, o dinheiro não ia aparecer. Tire a crise de sua cabeça!
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário
municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Bom texto. A partir do que li, faço uma reflexão e vejo que isso é mais um golpe arquitetado pela classe burguesa. Percebia sua insatisfação em ter os pobres coitados ao seu lado em aviões, em cursos só destinados a classe dominante.
Postar um comentário