Tiradentes existe sob várias faces: o mártir símbolo dos republicanos, o sacrificado como Jesus Cristo, o bode expiatório, o líder da Conjuração Mineira, o ignorante. Qual dessas seria a face verdadeira?
Publicado em 20/04/2017 neste blog
Texto: Silmara Andrade/Hoje Centro Sul (jornal do Paraná)
Tiradentes existe sob várias faces: o mártir símbolo dos republicanos, o sacrificado como Jesus Cristo, o bode expiatório, o líder da Conjuração Mineira, o ignorante. Qual dessas seria a face verdadeira? O historiador João Carlos Corso explica a realidade da época e oferece subsídios para a discussão sobre o mito Tiradentes.
Desde os anos iniciais do ensino fundamental ouvimos falar muito no famoso Tiradentes. De acordo com o que aprendemos na escola, ele foi um herói da época, teve diversos trabalhos, entre eles de minerador e tropeiro. Tiradentes também foi alferes, fazendo parte do regimento militar dos Dragões de Minas Gerais.
Junto com vários integrantes da aristocracia mineira, entre eles poetas e advogados, começou a fazer parte do movimento dos inconfidentes mineiros, cujo objetivo principal era conquistar a Independência do Brasil.
Dizem que Tiradentes era um excelente comunicador e orador. Sua capacidade de organização e liderança fez com que fosse o escolhido para liderar a Inconfidência Mineira. Em 1789, após ser delatado por Joaquim Silvério dos Reis, o movimento foi descoberto e interrompido pelas tropas oficiais. Os inconfidentes foram julgados em 1792. Alguns filhos da aristocracia ganharam penas mais brandas como, por exemplo, o açoite em praça pública ou o degredo.
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Tiradentes ficou no anonimato histórico durante o império brasileiro, não era herói, já que tinha sido condenado à morte pela avó de D. Pedro I, filho de Maria I, a Louca. Ele só surgiu como herói quase 100 anos depois de sua morte, com a Proclamação da República
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Tiradentes, com poucas influências econômicas e políticas, foi condenado à forca. Foi executado em 21 de abril de 1792. Partes do seu corpo foram expostas em postes na estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Sua casa foi queimada e seus bens confiscados. Por isso ele foi considerado herói nacional, já que segundo o que aprendemos ele lutou pela independência do Brasil, num período em que nosso país sofria o domínio e a exploração de Portugal.
Mas será que Tiradentes não foi um herói inventado? A historiografia recente aponta que este homem pode não ter sido nada do que dizem ser. O nosso Tiradentes, herói nacional após a proclamação da República, era considerado um vilão até 15 de Novembro de 1889. Tiradentes provavelmente foi apenas um bode expiatório de uma revolução que estava mais preocupada com o quinto do ouro das Minas Gerais que era enviado a Portugal.
O historiador João Carlos Corso, professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste, comenta que a clássica imagem de Tiradentes, de barba e cabelo comprido, é ilusória, pois ele era alferes, ou seja um soldado da coroa. Segundo o historiador, possivelmente Tiradentes nunca possuiu cabelos compridos, nem barba. Seja em sua época de militar (posto em que os membros do exército devem moderar a quantidade de pelugem pelo rosto), seja em seu período na prisão (os pelos eram cortados a fim de evitar piolhos), ou mesmo no momento de sua execução (todos os condenados à forca deveriam ter a cabeça e a barba raspadas, para expor bem o rosto). João Carlos Corso lista motivos para que esse mito fosse criado. “Esse mito foi construído pela necessidade de criar um herói da República e também um discurso fundador, visava mostrar que a luta pela implantação da República já havia começado na Inconfidência. Além disso, a República foi instalada no Brasil no ano de 1889 e não teve participação do povo, foi um golpe estruturado por militares, tanto que os dois primeiros governos foram Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto (dois militares)”.
Só nos últimos anos, a ideia do mito vem sendo desconstruída por alguns pesquisadores, algo que representa, de fato, um retorno aos documentos, à valorização de uma pesquisa empírica mais apurada, à busca de uma nova leitura, de aspectos ainda não tratados em fontes anteriores que, apesar de já muito utilizadas, ainda têm muito a revelar.
Embora a historiografia oficial considere a Conjuração Mineira como uma grande luta pela libertação do Brasil, o historiador inglês Kenneth Maxwell, autor de A devassa da devassa (Rio de Janeiro: Terra e Paz, 2ª ed., 1978) fala que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais. Colocando também o Tiradentes bem diferente do que a história passou, um homem sem barba, sem glórias e sem liderança".
Tiradentes existe sob várias faces: o mártir símbolo dos republicanos, o sacrificado como Jesus Cristo, o bode expiatório, o líder da Conjuração Mineira, o ignorante.
Como patrono das polícias militares, ele foi pintado sem barba e vem vestido |
Como se pode perceber, desde o enforcamento de Tiradentes, a sua imagem e a sua história foram sendo recontadas por diversos grupos. Os republicanos foram aqueles que mais se apropriaram e incorporaram em seu discurso a importância de Tiradentes na história brasileira, apontando-o como o principal responsável pela "salvação" do povo, para que nem ele e nem a república fossem esquecidos.
Muito ainda há para ser abordado e discutido, e a historiografia brasileira vem se enriquecendo a cada dia com novos trabalhos e novas pesquisas, um processo ainda árduo e demorado. A constatação de elementos que têm se mantido desde o século XIX indica, por um lado, a vitalidade do mito e, por outro, o poder persuasivo das associações estabelecidas, entre o sacrifício heroico de Tiradentes e as condutas dos que se colocam como seus herdeiros: Tiradentes ficou eternizado na História.
Vídeo publicado no YouTube em 13 de janeiro de 2017
São Paulo (Brasil), 13 jan (EFE), (Imagens: Alex Mirkhan).=. O cineasta brasileiro Marcelo Gomes sente "uma alegria imensa" por ser um dos concorrentes na 67ª edição da Berlinale com "Joaquim", um filme que desmitifica a figura do herói nacional Tiradentes e resgata a "cruel" colonização portuguesa que deixou marcas "terríveis" no país.
"Estar presente nesta competição com diretores que admiro tanto, já é uma vitória. Era algo inesperado para nosso filme, de tão poucos recursos. Se vier o Urso de Ouro, será bem vindo ", disse Gomes à Agência Efe.jq
"Estar presente nesta competição com diretores que admiro tanto, já é uma vitória. Era algo inesperado para nosso filme, de tão poucos recursos. Se vier o Urso de Ouro, será bem vindo ", disse Gomes à Agência Efe.jq
3 comentários:
Bem, pelo im ou pelo nao, vou considerá-lo nosso heroi
Acho que o Tiradentes deve continuar sendo homenageado em seu dia, mas parar o País nesse dia é demais hein?
Tinha que ser feriado só em Minas então rss rss
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