Hélio Consolaro*
A lua cheia estava bonita no céu, solitária como uma mulher bela
numa festa, pois sua beleza era inacessível, já que ninguém tinha olhos para
ela. Assim era de todos, mas não tinha alguém.
Nas ruas, ninguém olha para o céu, nem descobre a Lua,
porque senão bate o carro. As luzes da cidade ofuscam o brilho da Lua, a
claridade de neon torna o satélite opaco. Nem os enamorados das baladas de uma
sexta ou sábado à noite fazem declarações de amor românticas, porque o luar
ficou num alpendre de um bangalô de um sítio rural na curva da estrada do
tempo.
Houve algum romântico renitente que criou uma balada no
sítio, num antigo engenho, apelidando o local de “Engenho Sertanejo”. O lugar
virou o ponto mais frequentado, era diferente, bucólico, mas ninguém levantava
o pescoço para ver a Lua. Foi uma frustração.
Engana-se quem achar que as badaladas da cidade são
frequentados por moçoilas e imberbes rapazes. Não, também estão lá, mas misturados
com madurões solteiros, casados e descasados, até mais idosos (e idosos) a pescar
naquela lagoa diversa. E agora surgiu uma nova classificação: héteros e homos.
Muitos urbanoides acham que a cidade vai dormir ao escurecer
ou pensam os mais tolerantes que ela ressona depois da meia-noite. Mal sabem
que é depois do uivo do lobisomem, na sexta-feira, que ela pulsa. Começa a
funcionar a indústria da vida noturna.
Não são os desocupados, boêmios empedernidos, com pele
macilenta que saem pela noite adentro em nossas cidades. São nossos filhos que
saem de casa às 23h, as funcionárias da loja, seus colegas de trabalho,
desmaridadas ou desmulherzados, gente que labuta a semana toda e quer
espairecer nos finais de semana à procura de um rosto lua.
E o luar não clareia mais, deixa os lobisomens
desambientados, mas a Lua continua a jogar seus raios sobre os enamorados que a
ignoram, não é vingativa, não sonega suas bênçãos. Ela não é mais citada nos
versos, nem nas declarações de amor porque ela sabe que não é o centro do
mundo, como a estrela Sol, sendo apenas um satélite. Caiu na real.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Academia
Araçatubense de Letras.
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