AGENDA CULTURAL

24.7.16

Aluno nota 10, professora nota 1.000


Jonathan Santos abraça a professora Andréa durante premiação de feira de ciências
Jornal O LIBERAL, 24/7/2016

Ex-interno da Fundação Casa e professora de Química de Araçatuba ganham visibilidade nacional após conquista em feira de ciências

Um giz pode mudar a vida de um aluno. E isto não é uma metáfora. Uma professora de Araçatuba e um ex-interno da Fundação Casa viraram manchete nos principais sites de notícias do Brasil por terem sido destaques em uma feira de ciências, em maio. De lá para cá, a conquista tem servido de inspiração para mudar a vida de outros jovens.

Orientado pela professora Andréa Meiado Chiarioni, 41 anos, o estudante Jonathan Felipe da Silva Santos, 18, desenvolveu um composto que pode ser usado para correção da acidez do solo, feito à base de resíduo de giz. Ele criou o composto enquanto cumpria medida socioeducativa na Fundação Casa, em Araçatuba.

Jonathan foi escolhido como revelação da Feira de Ciências da Educação de São Paulo. Além de garantir um lugar no pódio, a dedicação ao estudo também abriu um caminho promissor ao jovem. Agora, já fora da Fundação, Jonathan quer ir mais longe. A ideia é cursar uma faculdade de Medicina Veterinária nos próximos anos.

Para o jovem, boa parte dessas conquistas foi possível graças ao apoio dos educadores. O que muitos não sabem é que Andréa é uma professora que pode ser considerada "novata" na rede estadual de ensino. Aliás, não faz muito tempo que ela deixou o trabalho em um escritório de advocacia para atuar nas salas de aulas.

CADASTRO EMERGENCIALAndréa se formou em Tecnologia de Biocombustíveis, na Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Araçatuba, em 2012. Foi durante um curso de educadores, em Penápolis, naquele ano, que ela tomou conhecimento de que a rede estadual de ensino estava com cadastro emergencial aberto para docentes.

"Foi um grande desafio, pois eu não tive base pedagógica. O curso ministrado pela Fatec é maravilhoso, mas nos prepara para a indústria e para pesquisa, não para sala de aula", explica Andréa, dizendo que aprendeu muito com as equipes das escolas estaduais Abranche José e José Cândido, onde lecionou, pela primeira vez, a disciplina de matemática.

A experiência de levar alunos ao laboratório, despertando neles o prazer pela ciência, foi desenvolvida na escola estadual Professora Maria Apparecida Balthazar Poço, onde ela orientou os primeiros alunos a participarem de eventos de iniciação científica, por meio da apresentação de trabalhos.

CONCURSO PÚBLICO
Mas a vida reservava uma surpresa para a professora. Ela chegou a ser aprovada em Química e Ciências no último concurso público de docentes do Estado, mas não pôde assumir os cargos, pois ainda não tinha concluído a licenciatura. O diploma só chegou um ano depois de ela ter sido chamada para assumir as vagas.

"Mas, como havia me inscrito antes para a seleção do sistema prisional e para a Fundação Casa, quando a professora de Química desistiu, eu fui chamada para assumir a vaga. Fui para lá disposta a dar aulas e a fazer por eles o mesmo que faço por todos os meus alunos, onde quer que estejam. Fui para lá para oferecer o meu melhor e, em retorno, sempre obtive o melhor deles também", conta Andréa.

GOOGLEAo colocar o nome de Andréa e de Jonathan em uma página de pesquisa do Google, o internauta verá centenas de notícias da conquista da dupla publicadas em sites do Brasil inteiro. "Através desse estudo e da repercussão obtida, o Jonathan pode constatar o quanto é bom ver seu trabalho reconhecido", comenta a professora.

Mas a professora garante que não está sozinha nesse trabalho. Ela cita os seus eternos professores orientadores, os doutores Giuliano Pierre Estevam e Sandra Maria de Melo, além do professor Marcel Ricardo da Silva, que não leciona na unidade, mas foi aos sábados e feriados auxiliar Jonathan na elaboração das análises do projeto.

Por sinal, Andréa não quer parar de mudar a vida de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas. Ela continua lecionando Química e Ciências na unidade Casa Araçá. Atualmente, orienta 20 adolescentes em 10 projetos de pesquisa. "No que depender de nós, eu, Marcel, professores, coordenador pedagógico e gestores da unidade, o Jonathan é o primeiro de muitos que virão por aí."

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