AGENDA CULTURAL

26.7.16

O Peito Pardo mudou-se para o infinito azul

Em 2011,na minha sala, com jeito de bravo - primeiro contato, época em que gravou o vídeo 
Hélio Consolaro*

Depois de alguns anos dirigindo a Secretaria Municipal de Cultura apareceu por lá, à minha procura, um poeta chamado de Peito Pardo, pois ficou sabendo que o secretário era também escritor.  Já na minha sala se pôs a declamar de cor,  de cor, não, fazia os poemas oralmente em sua cabeça, pois não sabia escrever, belas poesias sobre Araçatuba. 

O jornalista Reggis Antônio registrou a sua presença em fotos e em vídeo que estão expostos aqui nesta crônica.  Peito Pardo já escreveu um livro, não publicado, mas ditado por ele a uma pessoa. “Eu não tenho formação, eu às vezes peço pra alguém escrever pra mim. Dito pra pessoa, e ela datilografa lá as letras que vou falando”. Assim, coloquei o poeta popular na mira da imprensa araçatubense.


Contou que antigamente, quando havia comício e palanque nas campanhas eleitorais, ele era chamado para declamar seus poemas. Era funcionário municipal aposentado e, com certeza, arrumou um serviço na Prefeitura (naquela época não havia concurso) por conta de algum prefeito.
PEITO PARDO: em 2012, em sua casa, quando o convidei para acompanhar os escritores até São Paulo
Era um genuíno exemplar de poeta popular, deixando o seu coração, seus sentimentos nos versos inteligíveis para qualquer pessoa. Assim, eu quis aproximá-lo do mundo acadêmico. Em 2012, fiz o lançamento do concurso de contos Cidade de Araçatuba na Casa das Rosas, em São Paulo. 

E a meu convite ele foi até lá declamar seus versos, acompanhado por uma de suas filhas. E lá havia uma pauta, cada um tinha a sua vez de declamar, mas com Peito Pardo não tinha isso não, ele pegou o microfone e não queria largar mais. Foi o primeiro conflito dele com o mundo acadêmico. Se ele veio a São Paulo para mostrar a sua poesia, queria declamar tudo.   
Nota publicada no dia 24/7/20116 no obituário de 24/7/2016 do jornal Folha da Região
A voz de Peito Pardo se calou no dia 16/07/2016. Foi morar no infinito azul. Como ele próprio disse que tinha um projeto de livro, que tal publicá-lo para que fique registrado o seu jeito de fazer literatura...   

Não sou candidato de fazer campanha eleitoral em velório, mas não fiquei sabendo de seu falecimento (missa, só depois achei o anúncio no jornal), mas teria ido ver o seu corpo pela última vez.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.





VÍDEO DE JOÃO MULATO E DOURADINHO CANTANDO MÚSICA DE PEITO PARDO


Tudo Leva
João Mulato e Douradinho
(Peito Pardo / Jesus Belmiro / João Mulato)
O carteiro leva a carta entrega de mão em mão
Tintureiro leva a roupa o padeiro leva o pão
O mineiro leva o ouro vento leva o pó do chão
Baiano quando se ofende já leva a mão no facão.
Quem leva tombo de amor leva dor no coração
Faz suspiro entre cortados feito que levar paixão
Gosto de levar o andor quando vou na procissão
Mas não gosto de levar amigo meu em caixão.
O beija-flor leva pena pra fazer ninho macio
Pescador leva a linhada quando vai pescar no rio
Quem parte leva saudade deixando um lugar vazio
Eu levo gosto na boca dos beijos de quem partiu.
Leva surra da polícia quem é malandro e vadio
E quem trabalha de noite leva agasalho de frio
Quando eu entro no jogo sempre levo mais de mil
Pra onde querem levar o futuro do Brasil.

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