Hélio Consolaro*
No Brasil, nada muda bruscamente, o brasileiro é como
mulher. Conquista-se uma mulher, de repente, nada mais que de repente, ela está
pelada com você numa cama. Não vivemos nenhum processo revolucionário.
Eu ia usar uma figura de linguagem mais pesada, mas não
pretendo criar caso com os defensores da moral e dos bons costumes. Assim, logo, logo, alguém apresenta uma PEC lá em Brasília,
o que era costume passa a ser lei.
Estou dizendo isso para dizer que no Brasil o voto não é
mais obrigatório. Não se votou nenhuma lei, nem foi sancionada, mas com uma
multa que varia de R$ 1,05 a R$ 3,51 para quem não foi justificar, só vota quem
quer. Dá uma dor de cabeça, mas resolve-se. É só pegar uma guia no cartório eleitoral
e pagar no banco.
Mais de 17% dos eleitores não compareceram às urnas em 2016,
sendo que 13% votaram em branco ou anularam o voto, ou seja, 30% de cidadãos se
negaram a fazer a escolha. Aí o Temer diz que isso é um recado à classe política,
principalmente a ele que deu a maior rasteira em Dilma, sendo vice dela.
O candidato João Dória (PSDB) obteve 53% (3.085.187) dos votos
válidos da cidade de São Paulo, mas ele perdeu para os nulos, brancos e
àqueles que não compareceram (3.096.304.). Será um prefeito eleito pela minoria.
O Tribunal Superior Eleitoral defende a tese que em estados
brasileiros em que foi aplicada a biometria, a abstenção foi bem menor porque,
de certa forma, chegou ao número certo de eleitores. Não deixa de ter razão.
Durante a campanha eleitoral deste ano, 2016, encontrei
eleitores bravos, não iam votar, porque fizeram-nos de palhaços: “Votei em
Dilma, e os deputados anularam o meu voto, me fazendo de palhaço, cassaram a
mulher”. Existe esse outro lado também.
Do jeito que a carruagem está caminhando, a grande omissão
acontecerá nas eleições de 2018, quando votaremos para deputados, senadores,
governadores e presidente. Atores e atrizes da grande crise.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras
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