AGENDA CULTURAL

1.11.16

A vaca já foi pro brejo

Hélio Consolaro*

Já fui jovem e via com raiva a falta de capacidade de atualização dos velhos, se não querem se modernizar, que, pelo menos, aceitem o novo. Atualmente, sendo eu um velho, me atualizo, gosto do novo, embora, às vezes, não possa compreendê-lo, e vejo os velhos, nem todos, ranzinzas, obsoletos, com olhar de piedade.

Os velhos, em sua maioria, nunca aceitaram os jovens, parece impossível que compreendam que a juventude é fruto de nossa educação, daquilo que passamos para eles. Não estou dizendo sobre educação escolar, mas da educação familiar, cotidiana, vou explicar bem, porque senão vão jogar a culpa no governo, seja ele de qualquer partido. Se os jovens estão vazios é porque nós, as gerações anteriores, não transbordamos.   
O texto seguinte foi dito por Sócrates há 2.500 anos, mas cabe na boca de qualquer velho ou adulto do século 21: "Nossos adolescentes atuais parecem amar o luxo. Têm maus modos e desprezam a autoridade. São desrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando nas praças, mexericando entre eles... São inclinados a contradizer seus pais, monopolizam a conversa quando estão em companhia de outras pessoas mais velhas; comem com voracidade e tiranizam os seus mestres." Só faltou o chavão: Este mundo está perdido!

Há uma música caipira cantada Por Tião Carreiro e Pardinho que representa bem isso. Os velhos quando a ouvem quase retornam ao orgasmo, chama-se "A vaca já foi pro brejo":


Quando se trata de mídia, a contradição velho e novo não é diferente. Quando surgiu a televisão, a desgraça do mundo era culpa dela. Agora, com a internet, a desgraça dobrou de intensidade, seria a deturpação da língua portuguesa. As pessoas não conseguem se adaptar ao novo, então, xingam-no.

A foto acima mostra bem isso. Ficar com o dedo espetado no celular é um crime, escrevendo ou lendo no aparelhinho, mas enfiar a cara num jornal ou num livro era sinal de intelectualidade. Muita gente não percebe que houve apenas a mudança da mídia, se há alguma alienação, ela é a mesma.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.




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