AGENDA CULTURAL

23.11.16

Marly Garcia - Fênix

Hélio Consolaro*

Clarice Lispector afirmou que escrever é muito perigoso, seria melhor eu ficar calado, mas eu sou como o bêbado, gosto da malvada da escrita diariamente, é uma necessidade interior. Prefiro correr o risco.

Peço, caro leitor, que veja os meus escritos como os quadros de Claude Monet, uma visão embaçada do mundo, do meu jeito, que não deve ser levado muito a sério.

Quando vi a minha confreira de Academia Araçatubense de Letras, Marly Garcia, sendo designada como secretária municipal de Cultura de Araçatuba pelo prefeito eleito Dilador Borges (PSDB), o fato me pareceu uma tela branca pedindo pinceladas. 

Embora seja um grupo pequeno no mundo cultural araçatubense, os acadêmicos da AAL  têm um forte peso político (ou encantamento), porque há alguns anos o secretário de cultura sai de suas fileiras, ora à direita, ora à esquerda: Marly Garcia, Cecília Ferreira, Hélio Consolaro, Marly Garcia. 

Quando o então prefeito Maluly Neto assumiu o seu primeiro mandato, rebaixando a Secretaria Municipal de Cultura para Departamento de Cultura, Marly Garcia assumiu-o. Era apenas uma professora de Português, dinâmica, a filha do Sargento Garcia. 

Como o casal Ênio e Marly não teve filhos sanguíneos, adotou crianças e abraçou a causa da adoção como discurso de vida. Quando se fala no tema em Araçatuba, seu nome é lembrado sempre positivamente. Aliás, seus livros infanto-juvenis têm a adoção como tema.

Na fase de menina moça, a beleza da Marly ao passar pela praça parava os rapazes. Apesar de doce, ela tem uma personalidade forte, tanto é que o sobrenome do marido, Ênio Souto, não substitui a do pai, ficou mesmo Marly Garcia. 

Por seu dinamismo, apesar de verba quase nenhuma para a cultura, aliada a outras bases eleitorais, se elegeu como vereadora pelo PMN em 2004, com o discurso da moralidade e da ética. Na Câmara Municipal, não cumpriu o discurso, não se reelegeu em 2008. 

Na vida privada, perdeu a escola Retomada na rua do Fico, onde preparava estudantes para concursos públicos. Problemas econômicos. Em 2012, não se candidatou a nada. Estava naquela fase brava, nada dando certo. Mas percebia-se que não desistia da luta.

De repente, ela surge com outra escola, Fênix. Como se percebe que ela tem uma capacidade de resiliência muito forte, pensei comigo: “Marly vai ressurgir das cinzas. Tomara.” 

Retomada e Fênix têm uma relação semântica, como se fossem os rochedos de Sísifo, sempre descendo e subindo.

Em 2016, neste ano, reuniu forças e candidatou-se a vereadora novamente, pelo PV, por pouco não foi eleita. Agora, foi apresentada como futura secretária municipal de Cultura de Araçatuba.

Assim, Marly Garcia surge das cinzas da política também. Nós torcemos por ela, que seu ressurgimento venha acompanhado de transformação. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

Que ela imprima uma administração própria mas dê continuidade ao seu trabalho.Fazendo só isso já entra para a história dos grandes Secretários da Cultura de Araçatuba...quantos são mesmo?