Alessandra Costa, 29/11/2016
A população brasileira se mostra muito
mais propensa à doação do que
poderíamos imaginar. Realizada em junho pelo Instituto para
o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), uma pesquisa sobre o perfil
dos doadores no Brasil revela um quadro que contraria o senso comum: em 2016,
77% dos entrevistados fizeram algum tipo de doação; 52% declararam ter doado
dinheiro e, desses, 36% fizeram doações mensais.
Em diversos países, 29 de novembro
celebra o Dia de Doar e, pelo quarto ano consecutivo, o
Brasil adere ao movimento global para ampliar a cultura de doação.
Mas como, efetivamente, fazer isso? As respostas dos 48% dos
brasileiros que não fazem doações fornecem pistas valiosas: desses, 47%
afirmaram que “resolver problemas sociais é responsabilidade do governo”; 45%
dizem não confiar nas organizações que pedem recursos; 40% mencionam que é
complicado fazer uma doação. E, o mais óbvio: 35% disseram
que não têm dinheiro.
Para a cultura, a situação é ainda mais complicada. Quando
entramos neste
campo, parece quase impossível conseguir colaborações de
indivíduos. A pesquisa do IDIS mostra que o tema sequer consta
na lista de causas sensibilizadoras (encabeçada por “saúde”,
“criança” e “combate à fome e à pobreza”). E pesa a imagem que se tem do apoio
governamental para a área, suporte que
não existe em países como os EUA, onde atividades culturais
dependem quase que exclusivamente da contribuição de
cidadãos comuns ou de fundações ligadas
a grandes fortunas.
O que faria, então, a opinião pública brasileira sentir um
pouco mais de
simpatia pela causa?
Quando analisamos as respostas dos entrevistados sobre suas
motivações ao doar, vemos que 89% dão uma resposta direta e livre de
julgamentos prévios: “porque me faz bem”. Quando o cidadão paga seu imposto,
não tem o menor
controle sobre o uso do recurso que foi subtraído dos seus
vencimentos mensais.
Não conheço pesquisas sobre o nível de satisfação da
população em relação à destinação de seus impostos, mas é
provável que a balança penda para o lado
da insatisfação total. Ao fazer uma doação, pelo contrário,
o doador “se sente bem” porque está contribuindo diretamente para o sucesso de
uma atividade que julga importante, agindo deliberadamente para equilibrar
oportunidades. Nesse sentido,
as atividades culturais têm muito a colaborar.
Já se falou amplamente sobre o lugar da cultura como um
direito fundamental na
vida de qualquer pessoa. Isso, além de um direito, é uma
necessidade. Basta
pararmos para pensar nas muitas formas
de aliviar um cotidiano pesado:
certamente, ouvir música, ler um livro, ver um filme ou ir a
um espetáculo estão
nessa lista. Além do aspecto da fruição individual, a arte
propicia momentos de convívio coletivo que são
recompensadores e prazerosos. Todo
homem precisa de alimentação, moradia, saúde e segurança.
Mas há outras necessidades, aparentemente abstratas,
que podem ser supridas pela cultura.
Na sua falta, a vida se torna árida e
sem cor.
Doando para a cultura, também nos sentimos bem, pois fazemos
escolhas
sobre que tipo de bem-estar queremos potencializar,
tornando-o acessível a um número maior de pessoas. Os instrumentos para doar
são muitos: incentivos fiscais, plataformas on-line, crowdfunding, doações
diretas com boleto, cartão de crédito, cartão de débito, ou até em dinheiro.
Não importa. Escolha o bem-estar que quer dividir, encontre um instituição
transparente e
de confiança, e vá em frente. Hoje é dia de doar para a
cultura, e amanhã também.
*Alessandra Costa é diretora-executiva da Organização Social
de Cultura Associação Amigos do Projeto Guri e diretora presidente da
Associação Brasileira das Organizações Sociais de Cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário