Por José Pio Martins*
Recentemente, deparei-me com duas situações. Na primeira, eu
almoçava com dois amigos, ambos na faixa dos 55 anos de idade, funcionários
públicos bem remunerados e entrando na aposentadoria. A conversa girava em
torno do que fazer com os muitos anos de vida à frente. Na outra situação,
conversava comigo uma mulher que trabalha como voluntária em uma instituição de
câncer infantil, e ela me dizia que essas instituições enfrentam dois grandes
desafios: conseguir doações e recrutar pessoas para trabalho voluntário no
atendimento às crianças.
Um dos amigos comentava que muitos funcionários públicos bem
pagos se acomodam no salário elevado e na estabilidade do emprego, não se
interessam por outras atividades e, quando vem a aposentadoria, entram em
inatividade e preenchem seus dias em viagens e ócio. Passados alguns meses,
começam a ficar angustiados, surge o vazio existencial e muitos entram em
depressão. Alguns não conseguem se desapegar da repartição e ficam retornando a
ela como se não tivessem saído dali.
Essa situação se repete, ou pode se repetir, com qualquer um
que se aposenta e fica perdido sem saber o que fazer com o tempo livre. Falei
aos amigos sobre o relato da mulher voluntária e lembrei-lhes uma frase de
Divaldo Franco, conhecido orador espírita. Perguntado sobre que conselho daria
aos que sofrem de solidão nas grandes metrópoles, ele respondeu: “a solidão da
metrópole não é a solidão que o rodeia, é a solidão que o habita”. E então ele
disse: “Pratique a solidariedade, pois não é solitário quem é solidário”.
Divaldo mencionou as centenas de pessoas que jazem em leitos
de hospitais, muitas delas sozinhas, apenas aguardando a hora de morrer, desejosas
de que apareça alguém para conversar ou contar-lhes uma história. Para um
aposentado de boa renda e com o tempo livre, as opções do que fazer são muitas.
O ócio, o tédio e a falta de motivação derivam da falta de projeto. Fazer
cursos, estudar um idioma, dar aulas gratuitamente, fazer trabalho voluntário,
dedicar-se a atividades sociais… as opções são muitas.
A solidariedade faz bem a quem pratica. A bem dizer, o
brasileiro não é dado a atividades sociais de benemerência. Doar alimentos no
Natal, distribuir roupas usadas no inverno ou ainda contribuir com doações
quando ocorre uma enchente é muito pouco, e é uma forma de disfarçar nosso
baixo índice de solidariedade. Em países adiantados, é alto o número de pessoas
com atividade social rotineira e que fazem doações filantrópicas regularmente.
Aqui no Brasil, é difícil as pessoas enfiarem a mão no bolso para ajudar as
instituições de caridade.
Lembro-me de certa reportagem que falava da falta de papel
higiênico em uma universidade pública de São Paulo. Um dirigente da instituição
afirmou: “Há empresários muito ricos que se formaram aqui e nunca doaram um
centavo à instituição. A universidade de Harvard recebe US$ 30 bilhões em
doações anualmente”.
No Brasil, muitas pessoas justificam a falta de disposição para
doar sob o argumento de que há muito desvio. É verdade. Mas há formas de doar
seu tempo ou dinheiro diretamente aos necessitados sem que nenhum malandro
roube no meio do caminho. O trabalho voluntário é uma delas, e ainda ajuda a
diminuir o tédio derivado de nada fazer. Infelizmente, a corrupção e os desvios
reduzem o grau de confiança da sociedade nas instituições. E a falta de
confiança reduz a benemerência. Mas dá para contornar o problema, basta querer.
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