*Hélio Consolaro
Comedores de cadáveres somos, com certeza, pois matamos os
animais para comê-los, somos de certa forma necrófagos também; quando fedem,
passamos para os urubus, vermes e outros seres vivos que adoram carniça sem
lhes fazer mal. No mundo rural, isso acontecia normalmente, de forma simples;
no mundo urbano, esse processo ganha complexidade.
Quando este blogueiro era criança, na zona rural, vivíamos
de estilingue na mão, minha mãe sempre me dizia:
- Cuidado! É pecado matar urubu!
Como eu era meio cego e não sabia, só consegui matar um
passarinho em toda a minha vida, mas havia um certo cuidado com os urubus, por
serem os faxineiros do mundo. Como não sabem caçar, então vivem de comer o fato
consumado.
A gastronomia e a culinária escondem o porquê de usarmos a
pimenta em alimentos, principalmente nas carnes. Como antigamente não havia
geladeira e nem freezer, nossos ancestrais se viravam com outros procedimentos
e produtos para conservar a carne, sem mau cheiro, como o charque (sal e sol) e
a pimenta.
Se inserimos o vinagre em nossa culinária para desinfetar
alimentos crus (os japoneses usam o gengibre para tanto), a pimenta tinha
originariamente a função de encobrir o gosto de carne estragada em nossos
pratos.
Sobre a operação "Carne fraca" da Polícia Federal
que investiga a venda de carne estragada, empacotada (processada), ou seu
reaproveitamento nos embutidos: linguiça, mortadela, salame, presunto, salsicha,
há muitas ponderações a fazer.
Isso é como o café. A boa produção vai para a exportação, o
café de segunda ou terceira fica aqui no Brasil para o consumo interno. Carne
estragada, adulterada e coisas tais, é uma questão nossa, dos brasileiros.
Daqui a pouco, o presidente postiço Michel Temer telefona
para os presidentes de outros países e diz:
- Calma! A melhor carne é para a exportação, essas denúncias
valem apenas para o mercado interno.
Por que a Polícia Federal se meteu nisso? Não é competência
do Ministério da Agricultura fazer a fiscalização da carne? Sim, o famoso carimbo
do SIF, mas acontece que os fiscais estavam sendo corrompidos pelos
frigoríficos.
Toda ação tem efeitos colaterais, uma delas é mostrar que
parte de nosso empresariado é corruptor, e sem corruptores não há corruptos.
Outro efeito é fazer uma cortina de fumaça justamente na hora em que discutimos
a Reforma da Previdência. A terceirização foi votada por trás dessa cortina.
Como também, a concorrência queira prejudicar o Brasil no
mercado internacional da carne. E assim por diante.
Se espremermos o nosso cérebro, vamos descobrir outras
coisas, como: a carniça está instalada em Brasília.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Membro da Academia Araçatubense de Letras.
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